OESP, Vida, p. A34
20 de Mai de 2006
Ação de Greenpeace contra Cargill acaba em confronto
Ativistas e produtores se enfrentaram no oeste do Pará; Ministério Público exige Estudo de Impacto Ambiental
Carlos Mendes
Dezesseis ativistas do movimento ambientalista Greenpeace foram presos ontem em Santarém, no oeste do Pará, durante protesto que realizavam contra o desembarque de soja pela multinacional Cargill.
Manifestantes contrários ao movimento, incitados por fazendeiros, madeireiros e plantadores de soja, apedrejaram o navio do grupo, o Arctic Sunrise, e também atiraram rojões contra a embarcação e os ativistas. Um policial federal, um policial militar e dois integrantes do Greenpeace sofreram ferimentos leves. Entre os detidos está o coordenador da Campanha Amazônia da organização, Paulo Adário. Pelo menos seis deles são estrangeiros.
O confronto começou quando cinco alpinistas do movimento subiram as torres do porto. A empresa chamou a polícia e os ativistas foram expulsos. O navio tentou impedir o descarregamento da soja no local.
O Greenpeace acusa a Cargill de usar seus funcionários para agredir os manifestantes. Em nota, a empresa disse que sua propriedade foi invadida e que se limitou a pedir para a polícia retirar os ativistas do local. Ela nega ter incitado outras pessoas contra o movimento.
Uma marcha de plantadores de soja pelo porto estava marcada para ontem. Como contrapartida, o Greenpeace e a Associação de Trabalhadores Rurais prometem fazer o mesmo no domingo. Nenhuma reunião foi pedida por ambos os lados.
A soja, que é exportada para a Europa e a Ásia principalmente como alimento animal, é cultivada em áreas desmatadas da Amazônia. Diferentes estudos mostram que os grãos exercem uma pressão negativa sobre a floresta.
"Nossos voluntários continuarão a protestar pacificamente para proteger a floresta tropical mais preciosa do mundo que está sendo destruída para alimentar frangos, porcos e vacas", prometeu Adário.
IRREGULARIDADE
Ontem, o Ministério Público Federal decidiu que o funcionamento do porto é irregular, e pediu à Cargill a apresentação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da obra.
Na época da construção do porto, no fim da década de 90, em vez de apresentar o EIA, a Cargill e a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Pará elaboraram um simples Plano de Controle Ambiental.
O procurador da República Renato Rezende Gomes, responsável pelo caso, afirma que o porto corre risco de ser fechado. A empresa ainda pode recorrer ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal - o que não a livra de realizar o EIA.
Entre as irregularidades apontadas pelo MPF está a existência de um sítio arqueológico no local, ignorado pela empresa, assim como foram ignoradas as possibilidades de danos ao Rio Tapajós.
OESP, 20/05/2006, Vida, p. A34
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