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Comunidades quilombolas participam de encontros para debater turismo de base comunitária e patrimônio cultural

ISA - http://acervo-socioambiental.informativomineiro.com
27 de Nov de 2011

Na semana da Consciência Negra, os quilombolas do Vale do Ribeira participaram durante dois dias de debates envolvendo impactos do turismo nas comunidades, com sugestões levantadas em grupos de trabalho. No segundo dia, o tema foi a apresentação do Dossiê de Paisagem Cultural na região.

A Casa Paroquial de Iporanga, no Vale do Ribeira, recebeu nos dias 17 e 18 de novembro quilombolas representando 25 comunidades de oito municípios (veja quadro no final) para um encontro onde debateram os impactos do turismo comunitário e participaram da apresentação do Dossiê de Paisagem Cultural do Vale do Ribeira.

O primeiro a falar foi Ditão Alves, liderança do quilombo de Ivaporunduva, que relatou a todos suas viagens a Brasília junto com Maurício Carvalho, do ISA, solicitando auxílio para fomentar o turismo comunitário. Lembrou ainda a importância de qualificar o pessoal para receber os turistas, que não participam da rotina da comunidade. Para eles foram criados roteiros específicos. "No turismo existem coisas boas e ruins", disse o líder quilombola, que é presidente da Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras do Vale do Ribeira (Eaacone) e integra a Comissão Nacional de Articulação das Comunidades Rurais Quilombolas - Conaq. Ditão lembrou que existe uma grande preocupação com a entrada de drogas nas comunidades e que durante as boas vindas aos turistas, é feito um alerta sobre isso.

Em seguida, o antropólogo Antonio Carlos Diegues, do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas úmidas Brasileiras (Nupaub), da Universidade de São Paulo falou sobre os impactos do turismo nas comunidades. Levantou os problemas que uma atividade pode causar e o que fazer para que o turismo traga benefícios, para que a vida comunitária não se perca. Lembrou o caso dos pescadores da Prainha do Canto Verde, no Ceará, que utilizaram o turismo para fortalecer sua luta pelo território, em parceria com a Pastoral da Terra. Explicou que o turismo naquele caso não prejudicou as atividades tradicionais e enfatizou que é isso que o turista busca: a comida tradicional, as festas tradicionais. E alertou para a questão do dinheiro. Que se deve ter cuidado e não ter expectativas de ganhar muito dinheiro com a atividade. Diegues ressaltou que a manutenção do equilíbrio de renda entre as pessoas envolvidas no turismo é fundamental para não gerar conflitos e desagregação na comunidade.

Grupos apresentam sugestões

Depois, os participantes foram divididos em cinco grupos cujos trabalhos foram norteados por algumas questões básicas: o que entendemos por turismo de base comunitária; quais as vantagens e desvantagens do turismo; e como a comunidade pode se organizar para istrar a iniciativa de turismo de base comunitária.

Sobre a primeira questão ( o que entendemos por turismo de base comunitária)as definições em geral foram: o turismo tem que se dar dentro do território da comunidade e deve ser aceito por todos; deve estar focado na história, na cultura e no cotidiano das comunidades, valorizando-os; a comunidade deve ter o controle sobre as atividades turísticas, que devem resultar em renda. A segunda questão focada nas vantagens e desvantagens dessa atividade foi bastante animada. Entre as vantagens destacaram-se:

- oportunidade de geração de renda e distribuição na comunidade;

- melhoria na infraestrutura;

- possibilidade de envolver os jovens nas atividades;

- oportunidade de divulgar a cultura, a história e as tradições quilombolas;

- troca de experiências;

- incremento à venda de artesanato e produtos das comunidades;

- fortalecimento da luta territorial e da organização comunitária;

- maior conhecimento dos atrativos oferecidos pelas comunidades.

Entre as desvantagens apontadas os participantes dos grupos relacionaram preocupações e hipóteses que devem ser consideradas nos projetos de turismo de base comunitária.

- desigualdade de renda entre os quilombolas;

- doenças;

- prostituição;

- drogas;

- perda da cultura;

- geração de conflitos dentro da comunidade;

- problemas de saneamento;

- lixo.

A istração do negócio

A terceira questão em debate pelos grupos girou em torno da organização necessária para istrar a atividade. Daí surgiram algumas sugestões, tais como:

- contar com a colaboração das pessoas mais experientes e valorizar seu conhecimento;

- a atividade deve ficar sob controle da comunidade;

- a atividade turística não deve interferir no cotidiano das comunidades;

- necessidade de formar um grupo pequeno, um grupo gestor, para istrar, com prazo de mandato para ser substituído;

- organizar o grupo via associação da comunidade, que se encarregará de supervisoná-lo;

- regras internas claras estabelecidas;

- autonomia para que o grupo possa tomar decisões cotidianas, mas decisões mais importantes, que tenham a ver com alterações na atividade devem ser levadas ao conhecimento da comunidade por meio de uma assembleia;

- capacitar e qualificar os envolvidos com a atividade.

O dossiê da paisagem cultural

No segundo dia do encontro, a professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo, Simone Scifone, falou aos quilombolas sobre a chancela da paisagem cultural. Explicou que não nenhuma paisagem cultural chancelada e que o tema tem a ver com a proteção da cultura, e vai além do simples tombamento. Trata-se de um espaço maior, que protege a natureza, a cultura e suas manifestações. A chancela, segundo Simone, busca criar uma rede de proteção e envolve o poder federal, estadual e municipal e a sociedade civil.

O processo da chancela no Vale do Ribeira teve início em 2007 e em 2009 com o |Revelando São Paulo, evento realizado em Iguape com a participação de 29 instituições que relacionaram os principais patrimônios a serem protegidos. O Rio Ribeira de Iguape, é o exemplo na região. Como o objetivo é proteger a cultura, não se deve esquecer que o rio é um recurso natural que serve de mediação nas relações de cultura. Entretanto, a proposta de chancela do rio está parada desde 2009.

Durante o debate surgiram questões sobre a fiscalização da proteção a essas paisagens e sobre as vantagens e desvantagens do tombamento em relação à chancela.

http://acervo-socioambiental.informativomineiro.com/noticias/nsa/detalhe?id=3465

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