O Estado de São Paulo, p.C4
01 de Set de 1995
Disputa política divide opiniões de ambientalistas
Guerra pelo controle da qualidade do ar em São Paulo deve se acirrar no ano que vem
Flavio Mello
A disputa política entre a Prefeitura da Capital e o governo do Estado em relação ao controle da poluição em São Paulo - que deve se acirrar no ano que vem, quando a istração municipal pretende assumir sozinha o poder de decisão - está dividindo as opiniões de ambientalistas e especialistas. Alguns acham que a disputa para ver quem define as formas de controlar a qualidade do ar "é positiva por forçar um debate necessário". Outros acreditam que o conteúdo político da discussão pode precipitar decisões intempestivas, sem que o problema seja resolvido.
"Podemos chamar essa disputa de Guerra Santa, porque está gerando uma discussão muito importante na cidade", diz o superintendente da Fundação SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani. Ele acredita que, mesmo que a divergência entre os governos municipal e estadual continue em 1996, os efeitos não serão negativos.
De acordo com Mantovani, o Código Municipal do Meio Ambiente tem de ser criado porque a legislação federal estabelece que os municípios têm de assumir suas responsabilidades nessa área. "0 importante é que o rodízio mostrou que as pessoas estão conscientes dos problemas e a tendência é que a discussão seja ampliada", argumenta.
Na opinião do secretário-executivo do Instituto Sócio-Ambiental, João Paulo Capobianco, a disputa política "não faz sentido". Segundo ele, o Estado e o município deveriam atuar em conjunto. "0 controle da poluição exige uma ação integrada", afirma.
Capobianco defende a participação de outros municípios no rodízio, porque em São Paulo circulam veículos de outras cidades. Ele discorda da posição da Prefeitura de só itir a medida em momentos críticos. "Isso significa expor a população a gases nocivos à saúde por muito tempo".
0 coordenador do Grupo de Estudos da Poluição do Ar do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Eduardo Artaxo, acredita que. a disputa política é prejudicial e gera iniciativas precipitadas.,"0 rodízio seria a última medida a ser adotada, porque não se faz um programa desses para São Paulo em menos de um ano", diz.
0 controle da emissão d.e poluentes dos carros, segundo Artaxo, é essencial, mas a solução deve partir de um planejamento de longo prazo. Ele acredita que várias medidas podem ser,estudadas para contribuir pára,a melhoria da qualidade do ar,na cidade. "Mas o ponto de partida seria, sem dúvida, o aumento dos investimentos nos transportes coletivos."
OESP, 01/09/1995, p. C4
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