O Globo, Ciência, p. 31
16 de Dez de 2009
Negociadores empurram decisão para ministros
Delegações não se entendem sobre pontos cruciais, como metas de emissões, limites de temperatura e financiamento
Roberta Jansen
Diante do fracasso dos negociadores, todos os pontos cruciais de um acordo na Conferência do Clima permanecem em aberto e deverão ser resolvidos por ministros de Estado - o que é incomum nas negociações internacionais -, numa corrida contra o tempo até a chegada dos chefes de governo. Falta decidir tudo: metas, dinheiro, limite de aumento de temperatura e de cortes de florestas.
Houve um retrocesso até em questões nas quais os negociadores imaginavam ter avançado, como as ações para reduzir emissões por meio da diminuição do desmatamento.
Ministros deverão atravessar a madrugada de amanhã para determinar os pontos antes da chegada de seus líderes, que se reúnem na sexta-feira. Ainda assim, segundo o negociador-chefe do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, duas questões espinhosas podem ficar para os chefes de governo: dinheiro e metas.
- Se vão deixar todos estes temas para os líderes, será muito difícil termos um acordo em dois dias - afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon - E precisamos de um acordo forte, de um resultado substancial.
Ambientalista teme que só haja declaração política
O número de questões em aberto assusta especialistas, como Marcelo Furtado, diretorexecutivo do Greenpeace Brasil, que acompanha há 17 anos as discussões.
- Isso significa que tudo é ime. Isso é ruim. Estamos a 24 horas da chegada dos chefes de estado. Corremos o risco de só termos uma declaração política que não vale nada.
Entre pontos-chaves em aberto, estão as metas de redução de emissões. O primeiro rascunho estabelecia compromissos obrigatórios de corte das emissões para os países ricos, deixando o percentual em aberto, de 25% a 45%. E determinava ainda reduções no crescimento das emissões para países em desenvolvimento.
Se o primeiro texto não falava em financiamento a longo prazo, o novo tampouco o menciona, confirmando que não houve avanço algum.
Outro ponto, destacado pela secretária de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Suzana Kahn, é que o primeiro rascunho fazia uma referência ao Protocolo de Kioto, que desaparece neste novo rascunho.
O maior retrocesso, no entanto, teria sido na questão do REDD. Esta é a sigla do mecanismo destinado a mensurar reduções de emissões de CO2 a partir da diminuição do desmatamento das florestas, e o formato deste mecanismo estava praticamente estruturado. Uma nova versão, entretanto, com diversas salvaguardas, surgiu, sobretudo por conta das pressões dos Estados Unidos e, agora, as duas versões serão levadas aos ministros. Em aberto continua o problema de financiamento; se, por meio de um fundo ou por créditos a serem vendidos no mercado.
Ime centrado em EUA, União Europeia e China
O grande nó nas negociações permanece centrado em três grandes blocos: União Europeia, EUA e China, que não avançaram um milímetro em suas determinações de cortes desde que chegaram a Copenhague.
- Não há chance de novos compromissos - voltou a afirmar o negociador-chefe dos EUA, Todd Stern, referindo-se à proposta de corte de 17% em relação a 2005, em discussão no Senado americano.
Não faltaram apelos para que a situação se resolva mais rapidamente. O secretário-geral da Convenção das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, Yvo de Boer, posou para fotógrafos ontem ao lado de uma boia, na qual se lia a inscrição "aja agora, salve vidas".
- Precisamos de metas ambiciosas de cortes, de financiamento. Há um ditado em inglês que diz que podemos levar o cavalo à água, mas não forçá-lo a beber.
Trouxemos 192 à água, mas não podemos forçá-los a beber.
O Globo, 16/12/2009, Ciência, p. 31
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