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02 de Out de 2024
Uma integração das matrizes modernas com as convencionais torna todo o sistema nacional mais estável e sustentável
A decisão da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) de decretar escassez hídrica do Rio Xingu está longe de ser uma medida de impacto regional ou de efeitos localizados. Como suas águas abastecem Belo Monte, a maior usina hidrelétrica totalmente brasileira (Itaipu é compartilhada com Paraguai), o status de Xingu tende a refletir nas contas de luz, com efeitos na inflação. Com uma unidade desse porte sob possibilidade de restringir energia de fonte hídrica, o regime de bandeiras tarifárias deve ser mantido na fase vermelha por mais tempo, quando taxa extra é cobrada a cada 100 kWh consumidos e essa receita cobre gastos com as térmicas.
O simbolismo da escassez hídrica do Xingu é amplo, pois a atual seca na Amazônia estimula o desmatamento. No caso de Belo Monte, também há uma relação com a população indígena - o Governo Dilma Rousseff optou por tornar Belo Monte usina de fio d'água, com o qual não há reservatório gigantesco que alaga grandes áreas das florestas. Essa decisão foi tomada após enfrentamento com ambientalistas, como Marina Silva (que rompeu com a gestão petista na época), e principalmente com lideranças indígenas em defesa de suas reservas. Belo Monte continua muito contestada pelos efeitos no meio ambiente, incluindo os indiretos, pois a usina, situada em Altamira (PA), está inserida em um contexto econômico de devastação da mata da região.
O fio d'água torna uma usina dependente da estabilidade dos níveis dos rios que a abastecem. Belo Monte tem reservatórios de regularização, mas insuficiente para sustentar uma unidade desse porte por muito tempo. Apesar dessa modalidade ser vantajosa do lado ambiental e indígena, ela se mostrou falha em tempos de mudanças climáticas, com mais extremos de falta de chuvas. É o que tem acontecido no Brasil desde meados da década ada, com ciclos chuvosos instáveis, insuficientes também para encher reservatórios convencionais, principalmente no Sudeste.
O Brasil é exemplo mundial por ter a maior parte de sua geração de energia obtida por fontes hídricas, mas isso gerou insegurança econômica. A solução foi investir em uma rede de usinas térmicas, com a desvantagem de serem caras e poluentes. Felizmente, houve o fenômeno da disseminação das novas matrizes limpas, como a eólica e a solar. Porém, são intermitentes, com períodos de pouca intensidade de ventos e céu encoberto. Especialistas também afirmam que as tarifas dessas fontes ficam muito caras nos picos de consumo, após o fim da tarde, e há subutilização em outros períodos do dia.
Uma integração dessas matrizes modernas com as convencionais torna todo o sistema nacional mais estável e sustentável e, espera-se, por meio da concorrência, com preço mais razoável. Mas isso não é motivo para ignorar o impacto ambiental que a geração de energia causa, e as fontes mais limpas precisam ser prioridade.
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