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Procuradoria do trabalho entra com ação em Jirau

O Globo, Economia, p. 40
20 de Mar de 2011

Procuradoria do trabalho entra com ação em Jirau
Segundo o Ministério Público, Camargo Corrêa não se compromete a atender necessidades dos trabalhadores

Cássia Almeida

PORTO VELHO. O Ministério Público do Trabalho ajuizou ontem uma ação civil pública contra a construtora Camargo Corrêa, responsável pelas obras da Usina Hidrelétrica de Jirau. A empresa, que havia assumido compromisso de um termo de ajustamento de conduta (TAC) amanhã, fez modificações no documento que, segundo o procurador regional do Trabalho Francisco Cruz, no conjunto não atendem às necessidades dos trabalhadores.
Uma das alterações pedidas pela Camargo Corrêa é que o pagamento dos trabalhadores ficasse ao salário-base, sem considerar outros ganhos que os operários recebem. Consultada, a empreiteira afirmou que ainda não foi notificada da ação do MP do Trabalho.
As obras de Jirau, um dos maiores projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), estão paradas desde quarta-feira, depois que uma rebelião de trabalhadores destruiu alojamentos e instalações da usina.
Ontem, a empresa começou a retirar os trabalhadores que haviam saído do canteiro de obras e estão precariamente instalados em Porto Velho. Cerca de dois mil operários deixaram a capital de Rondônia em 12 voos fretados e 300 ônibus. A expectativa é que mais três mil deixem a cidade nos próximos dias.
Mas milhares de trabalhadores ainda esperavam no ginásio do Sesi, um dos alojamentos improvisados. O clima de tensão permanecia no local, com os operários enfileirados, sob o sol, à espera do transporte prometido. Eles estavam há três dias no alojamento, em precárias condições de higiene. Na sexta-feira, uma chuva forte caiu sobre Porto Velho, deixando o ginásio em piores condições. Havia poucos funcionários da Camargo Corrêa para orientar os trabalhadores e a Polícia Militar, única autoridade pública a permanecer no local, tentava organizar uma fila.
- Não tem ninguém aqui para organizar isso. Eles ficam sob sol e chuva, nas filas - reclamava um policial militar.
Como a maioria é de Maranhão e Pará, operários de outros estados se queixavam da falta de informações.
- Estamos na fila sem saber quando sairemos daqui. O ginásio está imundo. Os banheiros não dão conta. Somos de Sergipe. São cinco dias de ônibus até lá - reclamava um trabalhador.

Trabalhadores defendem pauta de reivindicações
Já havia mobilização para greve quando conflitos começaram

Trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Jirau negaram que não houvesse uma pauta de reivindicações trabalhistas. A Camargo Corrêa afirmou que "não havia recebido qualquer pauta trabalhista até agora". Segundo os trabalhadores, eles pediam que as visitas às famílias fossem trimestrais, em vez de a cada quatro meses, e aumentassem de cinco a 15 dias. Outra reivindicação era que o valor da cesta básica subisse de R$110 para R$350 (pagos pelas empresas terceirizadas) e fosse entregue por outra bandeira de cartão, com maior aceitação.
- Só sete lugares aqui aceitam (a bandeira do vale alimentação) - disse um operário.
A greve estava sendo preparada quando um operário foi agredido por um motorista e a confusão começou, na terça-feira. No dia seguinte, com a Polícia Militar no canteiro, a greve começou, dizem os trabalhadores:
- Estávamos fechando o caminho para impedir que os ônibus fossem para as frentes de trabalho. Quando a polícia jogou gás lacrimogêneo e balas de borracha, a confusão recomeçou.
A Camargo Corrêa afirmou em nota que "as condições de trabalho em Jirau são as melhores disponíveis no país. Todos os alojamentos são equipados com ar-condicionado". E ressaltou que vem cumprindo "todos os compromissos contratuais". Ainda não há previsão de retorno das obras. (Cássia Almeida)

O Globo, 20/03/2011, Economia, p. 40

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