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Senadores devem votar projeto que flexibiliza regras de licenciamento ambiental

Valor Econômico, Política, p. A14
19 de Mai de 2025

Senadores devem votar projeto que flexibiliza regras de licenciamento ambiental
Proposta defendida por ampla frente empresarial é visto com apreensão por ambientalistas

Por Rafael Bitencourt e Gabriela Guido - De Brasília

19/05/2025 05h00 Atualizado há uma hora

A proposta de novo marco do licenciamento ambiental deve ser votada esta semana no Senado e já mobiliza entidades empresariais, a favor, e de ambientalistas, contrária ao texto proposto. A matéria tramita simultaneamente nas comissões de Meio Ambiente (CMA) e de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) - em um rito incomum. O parecer já foi lido pelos r

Aprovado pela Câmara em 2021, o projeto estava parado no Senado desde então por uma falta de acordo entre os relatores, Tereza Cristina (PP-MS) e Confúcio Moura (MDB-RO). Após acordo mediado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), chegou-se a um texto único, superando divergências em pontos polêmicos.

Nesta terça-feira, frentes parlamentares dos setores agropecuário, de energia, infraestrutura, logística, petróleo, mineração e construção civil almoçam com Tereza Cristina, para discutir o relatório.

Segundo apurou o Valor, a criação desse novo marco é uma prioridade para Alcolumbre. Em um Senado lento na aprovação de temas importantes, o parecer deve ser aprovado em plenário ainda neste mês. Se isso ocorrer, o texto volta à Câmara por conta das mudanças feitas pelos  senadores.

Ambientalistas veem desmonte e territórios ameaçados

As entidades ambientalistas afirmam que há o risco de ocorrer um desmonte na estrutura de avaliação e mitigação dos impactos de atividades econômicas sobre o meio ambiente no ano de realização da edição brasileira da conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima (COP30).

Na última sexta-feira (16), o Observatório do Clima listou uma série de preocupações com o relatório da senadora e de Confúcio. Hoje (19), o Instituto Socioambiental (ISA) divulga nota técnica para mostrar os potenciais efeitos negativos das mudanças no rito de licenciamento. O trabalho dessas entidades é uma tentativa de reverter a articulação da bancada ruralista e de setores empresariais que conseguiram influenciar na formação do PL. A avaliação é que a apatia do governo em lidar com o tema contribuiu para o avanço da proposta

De acordo com o levantamento do ISA, mais de 3 mil territórios demarcados - Terras Indígenas (TIs), Territórios Quilombolas (TQs) e Unidades de Conservação (UCs) - estarão ameaçados com a entrada em vigor do marco legal. Isso inclui 259 TIs (quase um terço de todas existentes) e 1,5 mil TQs (80% do total).

Técnicos do ISA identificaram 75 obras do Novo PAC dentro da Amazônia Legal contempladas com a simplificação do rito de licenciamento. Os projetos do programa seguem um caminho especial de licenciamento por afetar 277 áreas protegidas. Por efeito do novo marco legal, o número de áreas cairia para 102.

Em análise mais abrangente dos impactos do projeto, o ISA estimou que 18 milhões de hectares de floresta - área equivalente ao Estado do Paraná - estariam desprotegidos no novo regime jurídico. Um dos pontos mais controversos do relatório é a extensão da Licença por Adesão e Compromisso (LAC) para projetos de pequeno e médio porte e que sejam, também, de baixo e médio potencial de impacto.

Agropecuária 'altamente regulada'

O texto também dispensa de licenciamento ambiental o "cultivo de espécies de interesse agrícola, temporárias, semiperenes e perenes". Outros usos do solo que podem gerar impacto ambiental, mesmo que envolvam a atividade agrícola, devem estar de acordo com a legislação específica de cada um, como é o caso do uso de agrotóxicos.

Rodrigo Justus, consultor de meio ambiente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), defende que "tudo" na atividade agropecuária já é "altamente regulado", sobre uso do solo, recursos hídricos e os chamados defensivos agrícolas.

"A atividade rural depende de muitas outras: construção de estrada, construção de ferrovia, construção de sistemas de armazenamento e tudo isso está vinculado a um licenciamento ambiental que continuará existindo com essa lei. O que a gente quer é agilizar prazos, reduzir custos com burocracia e acabar com duplicidade de procedimentos", disse Justus, ao Valor.

O superintendente de meio ambiente e sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo, entende que agora é o momento de aprovar a nova legislação.

"O assunto já está bastante maduro e está claro que essa é a melhor maneira de racionalizar e modernizar o processo de licenciamento do país, questão que reflete diretamente no custo-Brasil", disse o técnico da confederação ao Valor.

Governo dividido

O governo está dividido sobre como entrar no embate. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, classificou o texto como "grande retrocesso" e sinalizou que dialogaria com parlamentares para evitar a aprovação de "medidas destrutivas".

Ainda é incerto se a liderança do governo na Casa, comandada pelo senador Jaques Wagner (PT-BA), fará um movimento para mudar o texto. Questionados sobre a críticas ao atual texto do PL, os relatores não retornaram até o fechamento desta edição.

Valor Econômico, 19/05/2025, Política, p. A14

https://valor.globo.com/politica/noticia/2025/05/19/senadores-devem-vot…

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