GM, Energia, p. A6
18 de Nov de 2004
A solução energética que é abandonada na lata de lixo
O mercado de crédito de carbono ajudaria o segmento a crescer. A geração de energia elétrica por meio de lixo poderia ajudar a elevar a capacidade produtiva do sistema energético brasileiro e a reduzir as deficiências das linhas de transmissão do País. Especialistas afirmam que construir uma usina em um aterro para produzir energia pode ser mais caro do que a implementação de outros projetos, mas pode ser a solução para dois problemas: dar um destino útil ao lixo produzido nas cidades e ter nova fonte de geração energética.
Por serem mais caras, subsídios governamentais seriam necessários para viabilizar tais obras. No entanto, nenhum projeto desse tipo foi inscrito na primeira etapa do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), do governo federal. Se selecionados, poderiam receber financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), caso garantissem índice de 60% de nacionalização dos equipamentos usados.
A geração de energia por meio da incineração do lixo ou da coleta dos gases provenientes da decomposição dos materiais nele existentes se enquadra na categoria "biomassa", único segmento que não atraiu os investidores na primeira etapa de inscrição do Proinfa.
Dos 1.100 MW do Proinfa destinados à geração por biomassa, apenas 327,5 MW foram ocupados. A segunda chamada para esse segmento, que tem como objetivo completar essa capacidade, será encerrada amanhã, dia 19.
De acordo com a tabela do Ministério das Minas e Energia para os valores referenciais da energia produzida por biomassa, o preço da eletricidade produzida em aterros é de R$ 183,53 o KW/h, enquanto da energia produzida pelo bagaço de cana-de-açúcar, madeira e casca de arroz são R$ 101,78, R$ 110,01e R$ 112,02 por KW/h, respectivamente.
Nos cálculos do pesquisador Luciano Basto, da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), o investimento necessário para a construção de uma hidrelétrica é de US$ 1.500 por KW. O tempo de duração das obras é de cinco anos e o custo final da energia sai por US$ 35 cada MW/h. Para a construção de uma termelétrica, o aporte necessário é de US$ 700 por cada KW e as obras duram um ano e meio. O custo da energia, no final das contas, sai por US$ 50 o MW/h. No entanto, no caso da termelétrica há o custo para a compra do gás natural.
Já a usina de lixo une as vantagens das outras duas fontes de geração, segundo o pesquisador. O investimento necessário é alto, de US$ 1.500 por KW, assim como para uma hidrelétrica. O tempo necessário para o início das operações é de 1,5 ano (semelhante à termelétrica) e o custo final da energia, US$ 45 por KW/h, mas o custo do combustível é nulo ou pode chegar a ser negativo.
A consolidação de um mercado de crédito de carbono poderia representar a redução em aproximadamente 10% do custo final da energia produzida nas usinas que aproveitam os gases do lixo de aterros. Nas contas de Luciano Basto, se utilizado o sistema de venda de crédito de carbono, o custo dessa energia poderia cair para cerca de US$ 40 o KW/h.
Um exemplo dessa possibilidade é o da Biogás Energia Ambiental, concessionária da usina localizada no Aterro Bandeirantes, às margens da Rodovia Bandeirantes próximo à capital paulista, que aposta na consolidação desse mercado para começar a procurar parceiros nesse segmento. Com capacidade para gerar 20 MW, a usina é a maior do mundo nesse ramo.
kicker: A primeira etapa do Proinfa não contou com a participação de projetos de usinas de aterros
GM, 18/11/2004, Energia, p. A6
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