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28 de Mar de 2025
Após denúncias de ameaças, MPF recomenda mudanças em obras de estrada que liga cidades do Acre
6-8 minutos
A recomendação é direcionada o município de Porto Walter, ao Departamento de Estradas de Rodagens do Acre (Deracre) e ao Instituto do Meio Ambiente do Acre (Imac) para que os processos de consulta e licenciamento ambiental sejam refeitos integralmente e as reivindicações dos indígenas sejam atendidas. (Veja os posicionamento dos órgãos mais abaixo)
Esse recurso foi apresentado no âmbito de uma ação civil pública movida pelo MPF-AC questionando a abertura da agem e os impactos que podem ser causados na Terra Indígena (TI) Jaminawa do Igarapé Preto. O órgão federal também argumentou que não houve consulta aos indígenas que moram na região.
O órgão apontou na ação que a licença ambiental concedida para a obra não poderia ser emitida pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), mas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com a anuência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Em visita à Terra Indígena Jaminawa do Igarapé Preto entre 25 de fevereiro e 1o de março, as equipes do MPF-AC foram informadas de que moradores do entorno e de municípios vizinhos atribuíam aos indígenas a culpa pelo fechamento do ramal, o que gerou, conforme o MPF "hostilidades e ofensas, algumas delas de cunho racista, veiculadas pessoalmente e pelos meios de comunicação".
Recomendação
Nessa quinta-feira (27), o MPF-AC divulgou que a recomendação 'detalha as diretrizes que devem ser seguidas caso o Estado do Acre e os municípios envolvidos queiram prosseguir com a obra'.
Dentre as medidas recomendadas estão:
Necessidade de dois processos de consulta: um sobre a própria decisão de construir o ramal e outro referente à emissão das licenças ambientais pelo Imac;
Essa consulta deve ser livre, prévia, informada e culturalmente adequada, desde as primeiras etapas de planejamento;
Vedada qualquer forma de intimidação, ameaça, assédio ou cooptação, bem como a apresentação da obra como fato consumado;
Solicitem à Funai a emissão do termo de referência para o Estudo do Componente Indígena (ECI), que se distingue da consulta livre, prévia e informada;
Licenciamento deverá seguir o rito do EIA/RIMA, e caso o ramal afete unidade de conservação ou sua zona de amortecimento, como o Parque Nacional da Serra do Divisor, será necessária a autorização do ICMBio;
Empreendedor também deverá apoiar a implementação e manutenção de unidade de conservação como forma de compensação ambiental;
Pré-consulta com a participação da Funai, da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ) e da Comissão Pró-Indígenas do Acre (I-Acre) para definir a forma como a comunidade deseja ser consultada;
Os órgãos têm 15 dias para informar se acatam ou não. "O não acatamento poderá implicar a adoção de medidas judiciais cabíveis", orienta o MPF-AC.
O que diz os citados
O Deracre informou que recebeu a recomendação e está em tratativas;
Já o Imac respondeu à reportagem que "recebeu a recomendação do Ministério Público Federal (MPF) e está analisando e dando encaminhamentos para atender às demandas que são de responsabilidade a esta autarquia";
O g1 aguarda retorno da Prefeitura de Porto Walter.
Reivindicação
A Prefeitura de Porto Walter reuniu, em junho de 2023, autoridades municipais e políticos para discutir o o terrestre entre o município, um dos mais isolados do estado, a Cruzeiro do Sul.
o faz ligação entre Porto Walter e Cruzeiro do Sul - Foto: Asscom/Prefeitura
Com a interrupção, a gestão municipal à época buscou um trajeto alternativo, e afirmou que durante a audiência foi definido que o Deracre iria iniciar estudos para garantir um trajeto que desviasse do território.
Antes do o ser aberto em 2022, era preciso cruzar o Rio Juruá, em uma viagem que dura de três a cinco horas, para chegar ao município. Em caso de barcos e balsas transportando mercadorias, o percurso pode levar até dois dias, dependendo do nível d'água. A construção havia reduzido esse tempo para quatro horas e meia.
Debate
A audiência contou com a presença de autoridades como a vice-governadora Mailza Assis, a representante do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Melissa de Oliveira Machado, o procurador do Ministério Público Federal (MPF-AC), Lucas Costa Almeida Dias, o prefeito de Rodrigues Alves, Jailson Amorim, dentre outros.
Segundo a superintendente do Ibama, o instituto recebeu a constatação, foi elaborado um relatório onde foi confirmada uma extensão de 12 quilômetros de intervenção da estrada na terra indígena.
Em setembro do mesmo ano, a Justiça Federal do Acre pediu que o governo do estado, representado pelo Deracre e Imac, comprovasse o bloqueio do Ramal Barbary. Na reunião, a magistrada Raffaela Cássia de Sousa intimou os órgãos a comprovarem o bloqueio do trecho, se ainda havia agem de veículos e quem estava fazendo a fiscalização.
Ainda no encontro, segundo consta no documento, os órgãos estaduais informaram que uma cerca e uma porteira foram instalados no local e que também foi feito um relatório ambiental simplificado. A juíza deu o prazo de cinco dias para que essa documentação fosse encaminhada.
https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2025/03/28/apos-denuncias-de-ameac…
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