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Aquecimento global pode custar R$ 1,2 tri

OESP, Especial/Focas, p. H4
05 de Dez de 2009

Aquecimento global pode custar R$ 1,2 tri
É como se a economia paulista parasse por 16 meses

Giuliana Miranda e Lucas de Abreu Maia

São Paulo pode perder R$ 1,2 trilhão com o aquecimento global até 2050. Em comparação com Produto Interno Bruto (PIB) de 2008, é como se toda a economia paulista parasse por 16 meses. Será o Estado mais afetado em números absolutos. O prejuízo representa um terço da queda no PIB projetada para o Brasil - R$ 3,6 trilhões no mesmo período.

A conclusão, que será divulgada no início em 2010 e foi obtida com exclusividade pelo Suplemento Focas, é um detalhamento do estudo Economia das Mudanças do Clima no Brasil (EMCB). A pesquisa adota as premissas do Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC) para dois cenários de alterações climáticas: um pessimista, com alto nível de emissão de gases de efeito estufa, e outro otimista, com redução.

De acordo com as projeções, as perdas são menores conforme o Brasil avança no combate ao aquecimento global. O prejuízo, contudo, parece inevitável. Mesmo no caso em que as emissões diminuem, a queda no PIB é de ao menos R$ 230 bilhões - equivalente a 25% do PIB do Estado em 2008. Embora as mudanças do clima em São Paulo sejam das menos severas no País, secas, ondas de calor e enchentes em outras regiões afetarão diretamente a economia paulista. Norte e Nordeste serão as áreas mais atingidas.

"São Paulo é um polo importante, com produção tão diversificada, que qualquer contração na economia de outros Estados tem reflexos aqui", diz Eduardo Haddad, professor da USP e coordenador de modelagem econômica da pesquisa. Indústria e comércio devem ser os setores mais prejudicados. Se em São Paulo os valores absolutos são altos, o impacto em outras regiões será maior. As áreas rurais sofrerão mais. Em Mato Grosso, por exemplo, o prejuízo equivale a jogar fora cinco anos de crescimento econômico.

Enquanto a agropecuária paulista poderá ser vítima do clima quente, a produção de cana de açúcar deverá se beneficiar desse fato. "Grandes produtores vão se adaptar, porque têm dinheiro para investir em irrigação", diz José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e responsável pelos modelos climáticos do EMCB. Para ele, pequenos produtores e agricultura familiar sofrerão mais.

O estudo revela que a alteração no regime de chuvas, sobretudo no Norte e no Nordeste, causará redução no País entre 29,3% e 31,5% da capacidade de geração de energia firme, aquela garantida até em cenários adversos. "São Paulo importa de outros Estados quase metade da energia que consome. Se a produção cair em outras regiões, ela ficará mais cara ou pode faltar", diz o ex-ministro do Meio Ambiente e professor da USP José Goldenberg.

A redução das emissões de gases já virou lei em São Paulo. O Estado terá até 2020 para reduzi-las 20% em relação a 2005. Sancionada em novembro, a Política Estadual de Mudanças Climáticas aguarda regulamentação. No nível municipal, as metas são mais ousadas e o prazo, exíguo. Também com base em 2005, a redução deverá ser de 30% até 2012.

Para Goldenberg, é possível alcançar o objetivo com transporte público eficiente - cerca de 60% das emissões na cidade se originam de veículos. O secretário estadual de Meio Ambiente, Xico Graziano, ite a necessidade de trabalhar em conjunto com os municípios. Pela lei estadual, o governo tem um ano para traçar plano de transporte centrado na redução da queima de combustíveis fósseis. "Iniciativas locais afetam decisões tomadas em nível federal", diz Rajendra Pachauri, diretor do Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) e responsável por estudos que confirmam o aquecimento da Terra.

Créditos de carbono em alta

Paulo Roberto Araújo

Além de ambientalistas do mundo inteiro, São Paulo também está de olho na Conferência de Copenhague, na Dinamarca, onde 190 países vão discutir, a partir de segunda-feira, políticas ambientais na luta contra o aquecimento global. Após o evento, a Secretaria Municipal de Finanças definirá a data do terceiro leilão de créditos de carbono, que deve ocorrer antes de março de 2010. Há expectativa da elevação do preço da Redução Certificada de Emissão. Uma tonelada de CO2 não emitida equivale a um crédito de carbono. Reduzir a produção dos gases do efeito estufa, portanto, é um negócio lucrativo. Com os pregões de 2007 e 2008 foram arrecadados R$ 75 milhões, para o Fundo Especial do Meio Ambiente (Ferra). A verba bancou projetos socioambientais, programas habitacionais e ampliação de parques nos entornos dos aterros sanitários de Bandeirantes e São João, que estão desativados. "São Paulo conseguiu, em 2008, neutralizar cerca de 20% dos gases estufa. Estamos em uma posição de vanguarda no Brasil e no mundo", diz o secretário municipal de Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge. Não só a esfera pública se beneficia dos créditos. A empresa brasileiro-holandesa Biogás Energia Ambiental, por exemplo, converte metano em CO2, substância 21 vezes menos poluente, e produz energia elétrica com a captação do biogás. A companhia tem o direito de vender a Redução Certificada de Emissão, sinal de que preservar o meio ambiente também pode ser rentável. Diogo D'Avila

OESP, 05/12/2009, Especial/Focas, p. H4

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