FSP, Cotidiano, p. C1
26 de Dez de 2009
Belga é dono de paraíso ecológico no RN
Praia do Calcanhar, praticamente ignorada pelo turismo nacional, pertence a engenheiro florestal e não é explorada por turistas
Localidade abriga ainda um monumento abandonado projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e o mais alto farol da Marinha no país
Alencar Izidoro
Fernando Donasci
Enviados especiais à BR-101
O marco zero da BR-101, no litoral potiguar, esconde uma praia semidesértica e um cenário paradisíaco praticamente ignorados pelo turismo nacional, mas que já conquista ingleses, holandeses, americanos.
O lugar, na esquina do Brasil, no município de Touros (RN), dá o à praia do Calcanhar.
"É a praia do "seu Yan'", brinca uma vizinha, em referência ao apelido do engenheiro florestal belga que virou dono de quase toda a faixa de terra à beira-mar.
Uma área que toma conta de três quilômetros de orla foi adquirida por Yan -Johannes Leopold Bartholomeus Mallants, 50 e poucos anos ("precisa dizer a idade mesmo?", pergunta)-, nos anos 1990, quando ele diz ter ficado encantado com a região, após prestar consultoria ao Ibama.
Ele faz mistério do preço que pagou na época por terrenos que somam 6 milhões de metros quadrados (quase quatro parques Ibirapuera), mas a Folha apurou que é próximo de US$ 1 milhão (hoje, R$ 1,8 milhão).
Diz que sua intenção é "preservar esta beleza toda". Atualmente, constrói numa área a 200 metros da praia um condomínio que já vendeu metade dos 50 lotes com casas, a partir de R$ 100 mil, principalmente para ingleses e holandeses.
O empreendimento, divulgado na internet (www.myhouseinparadise.com), já recebia neste mês alguns moradores com cabelos e olhos claros que destoam dos da vizinhança.
"Quero ficar aqui sempre de outubro a março, caminhando, lendo", diz a holandesa Betty Nijman, 58, que trabalha com turismo. "Não temos TV, ar-condicionado, carro. Só tem essa piscina que acabamos de inaugurar", afirmou ela à Folha no começo do mês, exibindo fotos da festa que deu às crianças da vizinhança.
A celebração era pelo Sinterklaas, uma tradição holandesa antes do Natal. Filhos de caseiros pobres e de trabalhadores braçais da região, seis meninos e meninas de Touros trajavam chapéu e roupa vermelhos em homenagem a São Nicolau.
Na praia do Calcanhar não existe Réveillon ou Carnaval que deixe as areias lotadas de turistas. Ver mais de cinco deles na praia num dia quente de verão é motivo de espanto.
Além de um monumento abandonado do arquiteto Oscar Niemeyer no começo da BR-101, a atração famosa nas imediações, visitada com alguma frequência (250 pessoas num mês), é a torre de 62 metros que abriga as instalações do mais alto farol da Marinha no país.
Inaugurada em 1912 para se tornar uma referência de navegação, a construção já tem apelido até entre os militares.
"O farol aqui é do "seu Yan".
Estamos no quintal dele. Daqui a pouco vamos receber ordem de despejo", brincou Marcio arelli Noronha, 39, sargento da Marinha que trabalha no local, ao receber a visita da Folha na companhia do belga.
Quando comprou terrenos na região, o belga diz que foi considerado "louco". "Perguntavam pra mim se eu era doido de comprar dunas. A estrada não chegava até aqui, tinha que vir a pé ou de buggy", lembra.
Nesta década, ele montou uma pousada na frente da praia, mas que não era aberta para qualquer um. Só recebia grupos voltados a atividades de ioga, meditação e massagens.
A pousada Paraíso Farol foi fechada dois anos depois. É lá que Yan mora sozinho (a família e os dois filhos seguem na Bélgica), na companhia de funcionários -ele ainda tem planos de um parque eólico.
A presença dele por lá é controversa. "O homem é dono de tudo. Dizem que só quer gringo por aqui", comenta Zumira Cabral, 58. "A vinda de estrangeiros é de grande valia, gera emprego e renda", defende Edivânia Câmara, secretária de istração de Touros.
O empresário belga enfrenta na Justiça questionamento sobre um pedaço equivalente a um sexto de suas terras, adquiridas de um francês.
"Ele deve ter comprado de boa-fé. Mas quem vendeu não era dono, houve adulteração em cartório", diz José Dantas Lira Jr. , advogado que move ação para a família de um médico que morreu nos anos 80 e que dizia ser dono da área.
Veja a cobertura completa sobre a BR-101
www.folha.com.br/093511
Helena, 104, vira atração turística
Dos enviados à BR-101
Uma senhora de mais de cem anos que não usa óculos, não precisa de ajuda para se sentar nem se levantar e mantém seu hábito de costurar diariamente virou atração turística em Touros (RN).
"Vem um pessoal aqui me ver, mas não entendo nada", diz dona Helena Francilena da Silva, 104, em referência a estrangeiros (principalmente europeus) que costumam visitá-la. Mãe de cinco filhos, ela continua lúcida e ativa.
FSP, 26/12/2009, Cotidiano, p. C1
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