OESP, Metrópole, p. C6
15 de Jul de 2012
Campinas já tem poluição como a de SP
Ar dessa região do Estado está 'severamente saturado' de ozônio, segundo Cetesb; classificação é a mesma que a de Cubatão e Guarulhos
ARTUR RODRIGUES
RODRIGO BURGARELLI
O ar da região de Campinas já atingiu os mesmos níveis de saturação que o da Grande São Paulo em relação a um dos principais poluentes atmosféricos: o ozônio. É o que aponta o relatório de severidade do ar da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) deste ano. Dados mostram que as duas regiões estão severamente saturadas, o pior dos cinco níveis usados pelo governo estadual para classificar as cidades paulistas.
Os dados, que levam em consideração medições feitas nos últimos três anos, servem como referência para as autoridades ambientais proibirem ou liberarem atividades industriais nos municípios. Agora, a região de Campinas se juntou à Grande São Paulo e à Baixada Santista como os três locais do Estado onde o ozônio já chegou ao pior nível da escala. O motivo, de acordo com especialistas, é a instalação de indústrias pesadas em Jundiaí e Paulínia, além do contínuo crescimento da frota de veículos nesses locais.
Geografia. O relatório da Cetesb mostra que até cidades bucólicas, buscadas por quem quer levar uma vida longe da poluição, como Vinhedo e Holambra, já têm índices de saturação do ozônio iguais aos de Cubatão ou Guarulhos - outros poluentes, como poeira e fumaça, continuam menores. O excesso de ozônio é explicado porque ele não é gerado exatamente no mesmo local onde houve a combustão. O gás pode se espalhar por até 30 km da fonte poluidora (uma indústria ou uma avenida movimentada) - todos os municípios nesse raio de uma estação de medição são classificados no mesmo grau.
A gerente da Divisão de Qualidade do Ar da Cetesb, Maria Helena Martins, afirma que o nível de concentração do gás não deve ser motivo para desespero dos moradores desses locais. "O índice de severidade não significa que o ar está ficando irrespirável. Tecnicamente, ele é apenas um parâmetro para avaliar o impacto de novas indústrias naqueles locais e não é usado para medir impactos na saúde respiratória", explica.
Já o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Carlos Bocuhy, afirma que o crescimento nos índices é preocupante. Ele diz que o problema vai persistir enquanto a matriz de queima de combustíveis fósseis não mudar. "Continuamos lançando precursores de ozônio, que são hidrocarbonetos, que reagem à luz solar e criam o ozônio não desejável."
O ambientalista afirma que a tecnologia menos poluente é compensada negativamente pelo aumento da frota. E a poluição não tem fronteiras. "De repente, você foge para o interior para respirar ar puro e está mergulhado em um fog de ozônio."
O professor Nelson da Cruz Gouveia, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o ozônio tem alto poder de irritação das mucosas. "Isso pode levar a doenças respiratórias." / COLABOROU BRUNO RIBEIRO
Nem cidade das flores escapa do problema
Indústrias das cidades vizinhas, queimadas e proliferação de veículos ameaçam a qualidade do ar em Holambra
RICARDO BRANDT
ESPECIAL PARA O ESTADO
HOLAMBRA
Na cidade em que as ruas, as praças e até as placas de trânsito têm nome e forma de flores, o ar que se respira não é tão puro como se imagina. Holambra, a capital das flores, entrou na pior faixa de classificação de qualidade do ar neste ano, segundo a Cetesb.
Com 11,2 mil habitantes, Holambra é a típica cidade de interior para onde moradores de grandes centros fogem para morar com mais qualidade de vida. A educação é modelo, a violência é quase zero, o trânsito não é problema e o clima europeu da colonização holandesa completa o charme. "É uma surpresa saber que o ar está em níveis ruins. Trabalho no ABC e viemos morar aqui por causa da qualidade de vida, do ar puro, da natureza", afirma o analista de custos Donizetti Bozzi, de 55 anos, desconfiado dos dados da Cetesb.
Bozzi e a mulher, Nice, de 48, moram em Holambra há 11. Eles montaram uma estufa de orquídeas na cidade e dizem que um problema antigo são as queimadas de cana-de-açúcar na região. "Mas, de uns tempos para cá, isso diminuiu muito. Percebemos porque, quando fazem queimada, a piscina de casa fica cheia de cisco de cana", contou Nice.
A cidade não tem uma estação de medição - está na faixa de abrangência das estações de Paulínia e Americana. Sofre a influência das duas cidades onde a concentração de ozônio foi o grande problema, segundo a agência da Cetesb em Paulínia.
Moradores receberam a notícia do nível crítico da qualidade do ar com surpresa e certa desconfiança. Na tentativa de tentarem encontrar um motivo que explique essa piora na qualidade do ar, todos citaram o crescimento populacional e o aumento da frota de veículos.
Em 2000, Holambra tinha 7,2 mil habitantes. ados 12 anos, a população saltou pra 11 mil. Em 2001, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a cidade tinha 2.809 veículos (2,5 por habitante). Neste ano, já são 6.798 (1,6).
"A cidade sempre teve cultura do uso das bicicletas. Mas tem muita gente que pega o carro para tudo", conta a florista Claudia Van der Ven, de 30 anos, nascida em Holambra.
Índices pioraram na Grande São Paulo no último ano
Os índices de poluição do ar na Grande São Paulo relativos a dois poluentes também pioraram desde o ano anterior. Entre 2010 e 2011, a concentração média de fumaça cresceu 9% e o número de dias com excesso de ozônio aumentou 57%.
Nesse último quesito, o mais recente relatório de qualidade do ar da Cetesb - que é referência para os impactos da poluição na saúde dos paulistanos - mostra que, em 2011, o limite tolerável de ozônio foi ultraado em 96 dias, o maior número desde o registrado em 2002.
Segundo a Cetesb, isso não significa que o ar em 2011 tenha sido pior que em 2002, uma vez que algumas estações foram ativadas e outras desativadas nesse período. Além disso, houve diminuição de outros poluentes, como o material particulado, que é formado por poeira e fuligens, principalmente de veículos. Segundo a Cetesb, essa melhoria se deve aos programas de controle de emissões. / A.R. e R.B.
OESP, 15/07/2012, Metrópole, p. C6
http://acervo-socioambiental.informativomineiro.com/noticias/impresso,campinas-ja-tem-poluicao-co…
http://acervo-socioambiental.informativomineiro.com/noticias/impresso,nem-cidade-das-flores-escap…
http://acervo-socioambiental.informativomineiro.com/noticias/impresso,indices-pioraram-na-grande-…
As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.