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09 de Ago de 2024
Cineastas indígenas apresentam 'Nosso modo de lutar'
Documentário de Francy Baniwa, Kerexu Martim e Vanuzia Pataxó revela os muitos modos indígenas de existir e de resistir
Por: Redação Ciclo Vivo - 9 de agosto de 2024
Da esquerda para a direita, Vanuzia Pataxó, Francy Baniwa e Kerexu Martim durante as filmagens no 20o ATL. Foto: Luiza de Souza Barros | ISA
Neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, um documentário filmado por três cineastas mulheres indígenas traz a perspectiva e dá voz aos povos originários do Brasil, revelando as diversas maneiras que eles têm de lutar contra as ameaças constantes aos seus direitos e seguir existindo em um país que ainda não aprendeu a respeitar e exaltar sua diversidade e origens.
Lançado pelo Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Rede Katahirine, o documentário Nosso modo de lutar, foi filmado durante o Acampamento Terra Livre (ATL), um dos principais espaços de mobilização indígena do país na atualidade. Compartilhamos aqui a reportagem de Tatiane Klein, Pesquisadora do ISA, bem como o documentário em si e o link para quem quiser e puder apoiar o ISA (ao final da matéria) em sua defesa dos povos da floresta, trabalho que realiza de forma incessante há 30 anos.
povos indígenas
Foto do Acampamento Terra Livre 2024. | Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil
Realizado por Francy Baniwa, Kerexu Martim e Vanuzia Pataxó, da Katahirine - Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas, em colaboração com o Programa Povos Indígenas no Brasil do ISA, o vídeo foi filmado em abril de 2024, durante a 20ª edição do Acampamento, e dá atenção à pluralidade de formas dos movimentos indígenas. "Nós mulheres podemos perceber muitas coisas que ninguém percebe", destaca Vanuzia.
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Para compor este retrato, as cineastas abordaram cerca de 50 representantes de povos distintos, em sua maioria mulheres, explorando os saberes e fazeres que cada uma delas traz, ano a ano, para a mobilização. São cantadoras, cozinheiras, artistas, estudantes, anciãs e jovens lideranças - personagens como Cleide da Silva Pedro, do povo Guarani Kaiowá, que, na última edição, se dividia entre a equipe de segurança geral e atuava como cozinheira na delegação de seu povo no contraturno.
"A gente vê aqui que a mobilização é coletiva, não é separado, não é juventude, homens, mulheres. É uma luta coletiva entre crianças ao ancião", avalia Francy Baniwa.
Transitando pelo cenário de lonas pretas e cordas amarelas que marcam o cotidiano do acampamento, as imagens transportam o público desde os acampamentos das delegações até as barracas de artesanato, ando, é claro, pelas reuniões, plenárias e marchas em defesa dos direitos indígenas. Tudo isso a partir das câmeras e das vozes das cineastas, que são também personagens do vídeo e iniciaram a pesquisa audiovisual pelas contribuições de seus próprios povos.
nosso modo de lutar cineastas indígenas
Francy Baniwa entrevista Janete Desana, liderança do Rio Negro e vice-presidente da FOIRN. Foto: Moreno Saraiva | ISA
Entre os Guarani, por exemplo, um dos temas geradores foram os cantos mborai, muitos dos quais tratam da luta pela terra, como revela a cineasta Kerexu Martim, lembrando os versos de um deles: "Pemeē jevy, pemeē jevy ore yvy / Devolvam nossas terras, devolvam nossas terras". Já entre os povos do Rio Negro, Francy Baniwa inicia enfocando as pinturas faciais das mulheres desana, feitas não só para embelezar, mas para proteger e preparar os corpos para a mobilização.
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É relembrando ensinamentos dos anciãos do seu povo, que Vanuzia Pataxó nos introduz a uma das linhas de força do vídeo: a ideia de que entre os povos indígenas, as danças e cantos são armas fundamentais da ação política, tão importantes ou mais nestess contexto quanto discursos ou documentos. É ela quem nos apresenta os cantos e histórias de Dona Coruja, uma das grandes cantadoras e lideranças do povo Pataxó, que, nas palavras da cineasta "dá uma aula de história inteirinha por meio de um canto".
mulher indígena Dona Coruja
Dona Coruja, liderança histórica do povo Pataxó. Foto: Mariana Soares | ISA
"Adeus adeus a Brasília, até o ano que vem, Adeus adeus a Brasília, até o ano que vem,
Se eu não morrer eu volto, Se deus quiser eu venho." Dona Coruja
Ao longo do documentário, o público é convidado a entender por que enfeites corporais, alimentos tradicionais, instrumentos musicais, cantos e danças coletivas, entre outros, não são apenas elementos para mostrar as culturas de cada povo, mas têm usos e potências próprias, capacidades de comunicação e transformação da realidade.
cineastas indígenas acampamento terra livre
Vanuzia Pataxó, cineasta indígena da Rede Katahirine, durante as gravações de "Nosso modo de lutar", no ATL 2024. Foto: Tatiane Klein | ISA
É o que ensina, por exemplo, a liderança do povo Rikbaktsa ao explicar que seu cocar é usado especificamente para ir à guerra ou a liderança do povo Maxakali, ao contar que os desenhos que enfeitam seu vestido estão conectados aos rituais feitos junto dos espíritos yamīyxop.
Para além dos cantos e danças, palavras de ordem como "Diga ao povo que avance!", também ganham destaque, em especial nas cenas das duas grandes marchas feitas durante o 20o ATL contra os retrocessos aos direitos indígenas.
cineastas indígenas
Kerexu Martim entrevista Vanuzia Pataxó e o filho Txoeki Turymatã Pataxoop. Foto: Tauani Lima | ISA
Acampamento Terra Livre
Pelas palavras e cantos dos personagens, também entendemos por que reivindicar direitos indo a Brasília, com grandes manifestações coletivas, é, há mais de vinte anos, um movimento central para inúmeros coletivos indígenas - e porque, certamente, eles seguirão repetindo esse movimento nos anos por vir.
Nosso modo de lutar
Sinopse: A maior mobilização indígena do país é também lugar de encontro entre os multidiversos saberes e fazeres dos povos indígenas no Brasil. Pelo olhar de três cineastas mulheres indígenas, o público é convidado a conhecer o cotidiano do 20o Acampamento Terra Livre (ATL) e a descobrir como os diferentes modos indígenas de existir se expressam também como modos singulares de lutar.
Direção e imagens: Francy Baniwa, Kerexu Martim e Vanuzia Pataxó / Rede Katahirine
Produção executiva: Tatiane Klein, Luiza de Souza Barros, Mariana Soares, Moreno Saraiva Martins e Luma Prado / ISA; Sophia Pinheiro, Mari Corrêa, Victoria Moawad / Instituto Catitu
Montagem: Manoela Rabinovitch / Instituto Catitu
Finalização: Cama Leão
Realização: Instituto Socioambiental (ISA), Katahirine - Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas e Instituto Catitu
Ano: 2024
País: Brasil
Duração: 15 min
Apoio: Fundação Moore, União Europeia e Catholic Agency for Overseas Development (CAFOD)
Dia Internacional dos Povos Indígenas
Instituído pelas Nações Unidas em 1995, o dia 9 de agosto tem como objetivo chamar atenção para a importância dos povos indígenas e das garantias previstas a eles na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos Indígenas. Entre outros direitos, a declaração assegura o direito desses povos à autodeterminação, à comunicação e à diferença: "Os povos indígenas são iguais a todos os demais povos e reconhecendo ao mesmo tempo o direito de todos os povos a ser diferentes, a considerar-se a si mesmos diferentes e a ser respeitados como tais". Para saber mais, clique AQUI.
Rede Katahirine
cineastas indígenas
Imagem: Reprodução | Rede Katahirine
A Katahirine - Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas surge com o objetivo de criar um espaço coletivo para fortalecer e visibilizar a produção audiovisual das mulheres indígenas do Brasil e América Latina. Como primeira iniciativa de mapeamento do cinema indígena feminino no Brasil, desejamos que esta seja uma importante ferramenta de conhecimento e divulgação sobre o cinema realizado por nós, mulheres indígenas, além de uma fonte de dados para pesquisas e os públicos. Um espaço com foco no protagonismo das mulheres indígenas, na agência e no papel político em nossos contextos, dentro e fora das aldeias: agimos nas tomadas de decisões e gestão de recursos de realizações audiovisuais e criamos de acordo com nossas concepções de mundo e de vida.
Katahirine é uma palavra da etnia Manchineri que significa constelação. Assim como o próprio nome sugere, Katahirine é a pluralidade, conexão e a união de mulheres diversas que se apoiam e promovem mulheres indígenas no audiovisual brasileiro. Trata-se de uma articulação coletiva, onde podemos discutir e construir um espaço seguro de narrativas, levando em conta não só o corpo coletivo da rede, mas a subjetividade de cada participante, como uma pessoa pensante e atuante em todos os espaços.
Por Tatiane Klein - Pesquisadora do ISA
ISA
Imagem: Reprodução | ISA
Quer apoiar os povos indígenas do Brasil?
Para apoiar a luta pelos direitos dos povos originários, você pode contribuir com o ISA que há décadas trabalha com ações de comunicação, articulação e mobilização política na defesa dos direitos dos povos indígenas e das populações tradicionais. Os recursos serão direcionados para o Fundo de Defesa dos Direitos dos Povos, além de iniciativas para adesão de novos apoiadores.
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