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13 de Abr de 2025
Como a mudança climática ajuda a espalhar febre que era da Amazônia para SP e mais Estados
Desde 2016, pesquisadores têm percebido surtos mais frequentes da doença em áreas de Mata Atlântica; temperaturas altas tornam mosquitos mais aptos a transmitir e bugios mais vulneráveis
13/04/2025
Juliana Domingos de Lima e Glauco Lara
Quando os primeiros bugios mortos foram encontrados na mata da USP de Ribeirão Preto no fim de 2024, os pesquisadores do Laboratório de Virologia Molecular da Faculdade de Medicina da cidade já sabiam que a febre amarela devia estar circulando. Muito sensíveis à doença, os macacos ajudam a monitorar e conter a disseminação do vírus.
O caso desencadeou uma série de procedimentos no câmpus, uma antiga fazenda de café com área de mais de 200 campos de futebol e reservas ecológicas, com diversas espécies silvestres. Para evitar um surto, foram imunizadas 773 pessoas, entre funcionários, estudantes e frequentadores.
A atuação rápida surtiu efeito: nenhuma infecção humana foi registrada na cidade até o início de abril. Nesse mesmo período, em 2025, 47 casos em humanos foram confirmados no Estado. A maioria (33), teve a região de Campinas como possível local de contaminação.
A vacina da febre amarela é recomendada a todos no Estado de São Paulo e está disponível nas Unidades Básicas de Saúde, sendo aplicada em duas doses para crianças menores de 5 anos e em dose única depois dessa idade.
Além da ameaça à saúde humana, o vírus reduz o número de bugios. O câmpus em Ribeirão abrigava entre 48 a 62 deles - ao menos 15 morreram desde 2024. "É triste porque está dizimando uma população, que pode inclusive ser extinta", diz Benedito Fonseca, professor de Medicina da USP-Ribeirão.
Um dos possíveis indicativos da extinção dos bugios no câmpus é que o vírus tem sido detectado em primatas menos suscetíveis à infecção, como saguis. Ainda não se sabe se os saguis também participam do ciclo de transmissão, ando o vírus para os mosquitos.
Assim como em outras áreas da Mata Atlântica - a exemplo da Cantareira, na Grande São Paulo - nos últimos anos bugios têm sido vacinados em cativeiro, para que sejam reintroduzidos na mata. Mas o novo pico nas mortes dos macacos em Ribeirão veio antes da conclusão desse plano.
Anos atrás, a febre amarela ficava restrita à região da Amazônia e surtos fora dessa área eram esporádicos, normalmente no Pantanal. Mas altas de casos se tornaram comuns na Mata Atlântica. Desde 2016, o bioma tem registrado todo ano mortalidade de macacos pela doença, diz o primatológo Sergio Lucena.
"Precisa ter tanto estratégias de conservação da fauna, quanto campanhas continuadas de vacinação dos humanos, porque o risco continua presente", diz Lucena, diretor do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), ligado ao governo federal.
Segundo ele, é "muito provável" que as mudanças climáticas favoreçam a virose, já que ela costuma atingir seu pico no período mais quente do ano.
O ciclo mais extenso depende da presença e atividade dos mosquitos transmissores, dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Esses dois fatores são favorecidos por temperaturas mais altas, que impulsionam uma série de processos biológicos:
- A taxa de reprodução dos mosquitos, pelo encurtamento do tempo de desenvolvimento da larva, aumentando mais rapidamente a população;
- A aceleração do ciclo viral no organismo do mosquito, diminuindo o intervalo entre ele picar um animal infectado e transmitir o vírus;
- A atividade maior dos mosquitos em dias quentes amplia o período em que eles picam novos animais.
Ainda segundo Lucena, matas cada vez mais fragmentadas e eventos extremos, como ondas de calor, podem aumentar a suscetibilidade do bugio ao vírus.
"A grande questão da Mata Atlântica não é só conservar o que tem, mas trabalhar para restaurar ecossistemas, para fazer conectividade, fauna e flora terem a oportunidade de dispor de ambientes mais estáveis e menos vulneráveis", defende ele, também professor da Universidade Federal do Espírito Santo
Outra expectativa está na questão genética. "A esperança é de que esses bugios que ficaram e seus descendentes sejam um pouco mais resistentes à febre amarela".
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