VOLTAR

Conservação ambiental importa para os brasileiros? Nova pesquisa indica que sim

O Globo - https://oglobo.globo.com/
Autor: VEIGA, Luciana Fernandes; RIBEIRO, Ednaldo
26 de Abr de 2025

Conservação ambiental importa para os brasileiros? Nova pesquisa indica que sim
Mesmo as diferenças entre pessoas que declararam ter votado em candidatos diferentes no segundo turno da última eleição presidencial são irrelevantes, mostram dados do ReDem

26/04/2025

Luciana Fernandes Veiga
Professora titular da Unirio e coordenadora do metrado profissional em Comunicação Digital e Cultura dos Dados da FGV Comunicação

Ednaldo Ribeiro
Professor da UEM e UFPR

O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Representação e Legitimidade Democrática (ReDem) realizou pesquisa representativa nacional sobre valores e atitudes ambientais entre os brasileiros e descobriu que a maioria dos entrevistados apresenta disposições favoráveis à conservação do meio ambiente. O ReDem perguntou se não deveria haver limites ao crescimento econômico de países como o Brasil, mesmo que o meio ambiente sofra algum dano, e encontrou 53% de discordância, contra 26% de aprovação. Outros 20% dos respondentes manifestaram posições intermediárias.

Os entrevistados também foram perguntados se desenvolvimento econômico e criação de empregos deveriam ser prioritários, mesmo que o meio ambiente sofra algum dano e, dessa vez, 44% discordaram, contra 34% de concordância. Outros 22% manifestaram posições intermediárias.

Em ambos os casos, portanto, a posição dos brasileiros no debate pende para o conservacionismo. Mas chama a atenção que, quando se insere o tema do emprego, a prioridade à sustentabilidade seja reduzida em nove pontos percentuais.

Ao tentar identificar diferenças entre grupos sociais, econômicos ou ideológicos, os pesquisadores do ReDem verificaram tendência favorável mais forte ao meio ambiente do que ao desenvolvimento entre jovens e adultos, com ensino médio e superior e identificados com posições à esquerda do espectro político. Os eleitores de centro tenderam para a atitude ambivalente. Por outro lado, não encontraram diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres, região de moradia ou religião. Mesmo as diferenças entre pessoas que declararam ter votado em candidatos diferentes no segundo turno da última eleição presidencial foram irrelevantes.

É importante destacar que a despeito das diferenças encontradas entre grupos, em todos os segmentos, o percentual de preferência ao meio ambiente é superior ao de preferência ao desenvolvimento econômico.

Já quando a pergunta envolve também o emprego, as segmentações de sexo e voto no segundo turno das eleições de 2022 permanecem sem influenciar a preferência. Repete-se a tendência também registrada anteriormente quanto às segmentações de idade, escolaridade e ideologia. No entanto, religião e região de moradia, que não mostravam significância na preferência, am a contar. Os católicos e os moradores das regiões Norte e Nordeste se mostram mais propensos a preferir o desenvolvimento e emprego.

O único perfil que prefere o emprego e desenvolvimento à sustentabilidade é o de mais velhos, com ensino fundamental e moradores do Norte e Nordeste do Brasil.

Essa atitude nos valores ambientais da população difere da atuação de parte expressiva da bancada conservadora comprometida com o lobby de setores econômicos, que reforça a percepção de que a regulamentação ambiental é um entrave ao crescimento econômico e, portanto, um alvo a ser combatido. Assim, os incentivos pragmáticos dessas lideranças os afastam do engajamento em iniciativas e contribuem para um silêncio institucional quanto ao desenvolvimento sustentável.

Ao contrário, muitas dessas lideranças mobilizam enquadramentos simbólicos que associam a agenda ambiental à esquerda política ou ao estatismo, recorrendo, em alguns casos, ao uso de teorias da conspiração para deslegitimar o tema. Essas construções discursivas, ainda que não encontrem ressonância clara nos dados de opinião até o momento, podem ser eficazes para moldar percepções. Ao associar o ambientalismo à esquerda, essas lideranças instrumentalizam a polarização.

Dessa forma, verifica-se que o principal obstáculo à consolidação de uma agenda ambiental no Congresso Nacional não está nas crenças individuais da população, mas sim nas estratégias institucionais das lideranças políticas articuladas. É fundamental desarmar as narrativas conspiratórias que associam a conservação à questão ideológica, sob o risco de ver a polarização política obscurecer taxas de consensos sociais existentes e aprofundar a resistência à proteção ambiental justamente nos grupos que poderiam ser aliados estratégicos na sua promoção.

A pesquisa traz ainda um alerta de que a disposição da população brasileira em favor da conservação ambiental é consistente, mas sensível a mudanças quando o emprego é incluído como variável. Essa diferença revela a necessidade de atenuar o antagonismo direto entre desenvolvimento e emprego e meio ambiente, com políticas que conjuguem renda e conservação, que apresentam maior complexidade e potencial de mobilização política.

https://oglobo.globo.com/blogs/pulso/post/2025/04/artigo-conservacao-am…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.