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A COP-30 será apenas burocrática?

OESP - https://acervo-socioambiental.informativomineiro.com/
Autor: TAVARES, Flávio
01 de Mai de 2025

A COP-30 será apenas burocrática?
A defesa do meio ambiente é ampla e não se limita a apenas vencer a crise climática, encontrar-lhe uma solução ou amenizá-la

01/05/2025

Flávio Tavares
Jornalista e escritor, Prêmio Jabuti de Literatura 2000 e 2005, Prêmio APCA 2004, é professor aposentado da Universidade de Brasília

A pergunta do título leva a mergulhar profundamente no grande problema que, hoje, domina o Brasil e o mundo. Vivemos em plena era tecnológica em que a inteligência artificial surge como a grande conquista do desenvolvimento científico. Mesmo assim, boa parte da vida cotidiana continua dominada pelo imperdoável descaso com o meio ambiente e as mudanças climáticas, como se isso não incidisse sobre o futuro do planeta.

A COP-30, a realizar-se em Belém do Pará, buscará (pela trigésima vez) sentar as bases para enfrentar um fenômeno que chega a parecer que já se incorporou ao nosso dia a dia. As mudanças climáticas, porém, aí estão.

Já não basta o calor infernal deste verão ou a estiagem que secou os rios da Amazônia (onde antes chovia todos os dias) e que se alternou agora com chuva intensa e enchentes para apontar que algo de prático e urgente deve ser feito?

Parece até que nossos governantes pretendem resolver a crise climática "por decreto" ou "lei" votada no Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República. No entanto, no Brasil, com Jair Bolsonaro ou Lula da Silva, a maioria dos atos governamentais parece imitar essa ilusória infantilidade.

A mera formalidade domina tudo, como se não existissem causas visíveis e concretas que tornam mais agudas as alterações do quotidiano. Chegamos a uma cegueira tal que nem sequer vemos o que está à mostra. O calor asfixiante do verão deste 2025 não serve como indicação para ir às causas profundas da crise climática, que nos espreita como ladrão noturno disposto a tudo, até a nos matar.

A encíclica Laudato Sii do papa Francisco foi um dos primeiros alertas sobre o perigo enfrentado pela "casa comum" em nosso planeta. O papa, no entanto, tem apenas poder moral, nunca concreto e efetivo.

Entre nós, no Brasil, nem sequer percebemos o destrutivo perigo da poluição do planeta. Após destruir a imensa malha ferroviária, atopetamos estradas e ruas com automóveis e caminhões que contaminam cidades e campos. Poucos meses atrás, as taxas de importação de carros elétricos foram aumentadas sob a alegação de "estimular a fabricação nacional". Nenhuma determinação ou ato concreto, porém, foi adotado e o "estímulo" resumiu-se ao discurso governamental.

Na maior potência econômica e militar do planeta, o presidente Donald Trump se porta como um megalômano interessado em anexar o Canadá e a Groenlândia e, pela segunda vez, retira os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, numa mostra de que não tem nenhum interesse pelo tema.

Agora, a trigésima conferência da ONU sobre mudanças climáticas ou COP-30, se realizará em Belém do Pará, em plena Amazônia, conhecida como "pulmão do mundo". Perto dali, porém, a Petrobrás planeja extrair petróleo, e o presidente Lula da Silva aplaude a iniciativa, mesmo que os técnicos do Ibama e a própria ministra do Meio Ambiente a condenem.

Nada aprendemos com os desastres, como se cada um deles fosse coisa etérea e destituída de fundamento, nascida da nossa imaginação, nunca da realidade concreta. Nem sequer percebemos que as mudanças climáticas têm raiz humana e que, por nossa inércia ou descaso, crescem e se transformam em crise que ameaça a todos nós.

A defesa do meio ambiente é ampla e não se limita a apenas vencer a crise climática, encontrar-lhe uma solução ou amenizá-la. A ela se juntam outros fatores, a maioria deles gerada por nossa insânia ou ignorância. Na década de 1960, o desmatamento da Amazônia não ia além de 1% da floresta.

Atualmente, há regiões que chegam a 20%, algumas delas a poucos quilômetros de Belém do Pará, sede da futura COP-30.

Há muito tempo, os plásticos fazem parte do cotidiano e é inegável que facilitaram a vida de todos, mundo afora. Há, porém, uma verdadeira orgia no uso dos plásticos que usamos para tudo e em tudo, poluindo terras e águas. O microplástico nos mares, por exemplo, é consumido pelos peixes que, depois, vão nos alimentar. Meses atrás, este jornal publicou uma pesquisa científica que concluiu que os plásticos lançados aos lixões sanitários levarão até 500 anos para se degradarem. Surge uma pergunta crucial: nesses futuros cinco séculos quantos outros produtos similares ao plástico surgirão para facilitar a vida das pessoas?

Por outro lado, o chamado plástico verde continua à espera de incentivos governamentais, tanto para desenvolvê-lo cientificamente como para levá-lo ao mercado consumidor.

Muitas são as possibilidades de a COP-30 repetir as conferências anteriores e novamente optar por decisões meramente burocráticas. A reunião de novembro em Belém do Pará será presidida pelo embaixador André Corrêa do Lago, um dos melhores quadros do Itamaraty, que mede mais de 1,90 metros de altura. Oxalá que sua estatura física seja a antecipação de que a COP-30 será grandiosa e não repetirá as decisões meramente burocráticas das reuniões anteriores.

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