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30 de Abr de 2025
COP30 será 'grande evento de empresários', critica Ailton Krenak
Em Paris, para conferência no Collège de , escritor lamenta que acordos sobre clima estejam 'derretendo'
30/04/2025
André Fontenelle
A COP30, 30ª conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, que acontece em novembro deste ano em Belém, vai ser "um grande evento de empresários" e poderia acontecer por videoconferência. É a opinião do escritor e líder indígena Ailton Krenak, que deu uma conferência em Paris na terça-feira (29), no histórico Collège de .
"Vai exigir muito investimento, gastar muita coisa para promover uma conferência que podia acontecer online. Ela não precisava ser na Amazônia. Vão estacionar um navio para recepcionar o público, porque não tem infraestrutura em Belém para receber uma conferência", explicou Krenak.
"Sabemos que os EUA estão sabotando a conferência. Isso significa que os chefes de governo que deveriam assumir posturas não vão estar presentes lá. Então, vai ser um grande evento de empresários. Corporações e empresários vão ganhar muito com a COP30", acrescentou.
As declarações foram dadas à Folha logo após a conferência. Durante sua fala, Krenak também expressou pessimismo com os possíveis resultados da cúpula sobre o clima.
"Havia uma expectativa grande de que [a COP] seria uma oportunidade muito rara de os acordos sobre o clima serem reconstituídos. Nós tivemos um derretimento dessa visão. Os acordos todos do clima estão derretendo. Então o clima vai seguir o mesmo o", disse.
Uma das principais críticas de Krenak é em relação ao legado que a COP deixará para a capital do Pará.
"A última vez que eu fui, Belém estava em obras. Era máquina para todo lado furando tudo, aquela fúria imobiliária. Como é que você pode dizer que uma conferência vai ser boa se o resultado imediato que ela deixa é a perda da qualidade da vida dos habitantes, que estão sendo removidos dos seus bairros para receber por alguns dias chefes de governo de alguns países do mundo?"
À reportagem, ele criticou também os planos de exploração de petróleo na Bacia Amazônica. "É uma espécie de divórcio da realidade o governo brasileiro ou qualquer outro governo regional insistir na exploração de fósseis. Essa conversa de petróleo deveria ter se encerrado na última conferência [a COP29, em Baku, no Azerbaijão, no ano ado]."
"Você quer deixar um governo animado? Dê um poço de petróleo para ele", disse durante a conferência.
Em um dos momentos que mais agradaram o público de cerca de 400 pessoas, Krenak afirmou que "o título de sapiens deveria ser cassado" da espécie humana. "Nós somos uma bactéria em vias de extinção. E isso é muito bom", brincou.
Krenak foi convidado por Didier Fassin e Philippe Descola, professores do Collège e dois dos antropólogos mais importantes da Europa. O evento fez parte do calendário de eventos culturais do Ano do Brasil na França.
A apresentação foi feita por Descola. Ele informou aos ses presentes que em 2023 Krenak foi o primeiro "autóctone" eleito para a Academia Brasileira de Letras, "o equivalente da Academia sa".
O tema da conferência de Krenak foram dois neologismos de sua autoria, "florescidade" e "florestania". O primeiro conceito combina as palavras "floresta" e "cidade", enquanto o segundo se contrapõe ao termo "cidadania" para romper com o que chamou de "monocultura da mente".
"As cidades têm sido a resposta que damos à pergunta de como habitar a Terra. A ideia de florestania é a partir da experiência de comunidades que tiveram que resistir dentro da floresta, para que ela continuasse sendo o lugar de viver de milhões de pessoas invisibilizadas com a narrativa de que a floresta é um lugar vazio ou inabitável", explicou.
Krenak elogiou o público parisiense por estar aberto a "outras cosmovisões". "É muito significativo que eu esteja falando isto aqui nesta cidade, celebrada como uma das mais edificadas, expressivas e belas do mundo." Sugeriu que o famoso lema da Revolução sa deveria ar a ser "Liberdade, igualdade, fraternidade, diversidade".
Fundado em 1530 pelo rei Francisco 1o, o Collège de é uma das instituições de ensino e pesquisa mais tradicionais do mundo. É famoso por suas aulas gratuitas e abertas ao público, sem necessidade de inscrição. Nele lecionaram nomes como Roland Barthes (1915-1980), Michel Foucault (1926-1984) e Claude Lévi-Strauss (1908-2009).
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