O Globo - https://oglobo.globo.com/
Autor: WALY, Ghada
22 de Nov de 2024
Crime organizado e corrupção minam a ação climática
Traficantes reinvestem lucros ilícitos em atividades que impulsionam outros crimes que afetam o meio ambiente
Ghada Waly
Diretora-executiva do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime e diretora-geral do Escritório das Nações Unidas em Viena
22/11/2024
À medida que a COP29 se encerra em Baku, no Azerbaijão, os países buscam avançar numa ação climática conjunta. No entanto o crime organizado transnacional segue sendo grande responsável pela degradação ambiental.
Em nível global, os crimes que afetam o meio ambiente agravam a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas ao destruir sumidouros de carbono e ecossistemas. O desmatamento ilegal e o tráfico de madeira geram bilhões em lucros ilícitos. Crimes contra a vida selvagem visam a espécies raras, desequilibrando ecossistemas, enquanto práticas pesqueiras ilegais destroem recifes de coral e a vida marinha. O Relatório Mundial sobre Crimes contra a Vida Selvagem de 2024 -publicado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC na sigla em inglês) - revela que 4 mil espécies são vendidas ilegalmente em 162 países. Enquanto isso, o tráfico ilícito de resíduos despeja o lixo do mundo, e a mineração ilegal contamina solo e água com produtos químicos tóxicos.
Enfrentar os crimes contra o meio ambiente deve se tornar parte da agenda climática. A Chamada para Ação de Baku sobre Mobilização da Aplicação da Lei para uma Ação Climática Ampliada, adotada na COP29, foi um o positivo, com base nos resultados da COP28, em que o UNODC lançou uma iniciativa conjunta com o país anfitrião para fortalecer os esforços de aplicação da lei relacionados ao clima. Agora, é preciso olhar para a COP30 no Brasil, ocasião oportuna para dar continuidade ao impulso.
O crime organizado pode não ser a maior ameaça à ação climática, mas as redes criminosas minam as soluções globais. Enquanto o mundo se une para combater as mudanças climáticas, organizações criminosas avançam na direção oposta, vitimizando comunidades e convergindo com outras ameaças graves.
Isso é evidente na Bacia Amazônica, onde grupos de tráfico de drogas reinvestem lucros ilícitos em atividades que impulsionam outros crimes que afetam o meio ambiente. Esses grupos deslocam comunidades locais e indígenas, ameaçando seus meios de subsistência e expondo-as a riscos, como tráfico de pessoas e exploração.
O mundo tem de permanecer unido para promover leis robustas que estabeleçam penalidades aos crimes que afetam o meio ambiente, capacidades de aplicação da lei para combatê-los, investigações financeiras eficazes para rastrear o dinheiro e cooperação internacional aprimorada para buscar a justiça além das fronteiras. Parar a exploração criminosa do planeta também requer medidas de combate à corrupção, que facilita os crimes ambientais e ameaça o financiamento climático.
Chegar a um acordo sobre a ação climática tem se mostrado tarefa complicada, mas a necessidade de impedir que o crime organizado e a corrupção se aproveitem da natureza é ponto de consenso entre todos os países. Com o mundo marcando neste mês o primeiro Dia Internacional de Prevenção e Combate a Todas as Formas de Crime Organizado Transnacional, este é o momento certo para unir forças.
O UNODC teve orgulho de contribuir para a COP29 em Baku e espera uma parceria sólida com o Brasil na COP30, para proteger a agenda climática contra ameaças criminosas. Juntos, é possível agir contra o crime organizado transnacional, salvando vidas, protegendo comunidades e preservando nosso planeta.
https://oglobo.globo.com/opiniao/artigos/coluna/2024/11/crime-organizad…
As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.