O Globo, Ciência, p. 32
04 de Set de 2009
Descaminhos da Índia
País reconhece que vai triplicar as suas emissões de gases do efeito estufa
Em vez de diminuírem, as emissões de gases do efeito estufa que colocam a Índia entre os cinco maiores poluidores do mundo devem triplicar nas duas décadas. É o que revela um estudo divulgado ontem pelo próprio governo indiano. O relatório deverá prejudicar as negociações como país, um dos mais resistentes a adotar qualquer meta de reduções que atrapalhe seu desenvolvimento, na conferência da ONU sobre o clima, em Copenhague, em dezembro.
Na reunião, será discutido um novo tratado internacional para substituir o Protocolo de Kioto, que expira em 2012. Segundo país mais populoso do mundo, com cerca de 1,1 bilhão de habitantes, a Índia tem um papel decisivo nas negociações. Sem ela, não há acordo viável.
Poluição aumenta, mas a renda não
Segundo o documento, as emissões devem subir das atuais 1,2 bilhão de toneladas anuais para entre 4 bilhões e 7 bilhões até 2030. Isso, porém, não vai ser acompanhado de aumento da renda. Embora reconheça o grande aumento no volume de gases emitidos, o ministro do Meio Ambiente da Índia, Jairam Ramesh, ressaltou que as emissões per capita do país ainda vão ser bem menores do que as dos países desenvolvidos.
- Daqui a duas décadas, as emissões per capita da Índia ainda estarão abaixo da média global - disse o ministro.
Ele afirmou que o documento, elaborado por cientistas indianos, demonstra a seriedade com a qual o país trata da questão do aquecimento global. Apesar de ter uma matriz suja (carvão e óleo), a Índia gera 8% de sua energia a partir de fontes renováveis e já anunciou investimentos em energia solar e eólica. O governo também pretende tornar obrigatória a eficiência energética nos carros a partir de 2011. Tais medidas fizeram o país ser elogiado ontem pelo secretário de Mudanças Climáticas britânico, Ed Miliband.
- Acredito que a Índia vai facilitar e não dificultar as negociações em Copenhague - disse Milliband ao jornal "The Guardian".
Em um relatório de 2004 da ONU, o último em que a Índia forneceu dados detalhados sobre suas emissões, o governo dizia que, em 1994, as emissões haviam sido de 1,23 bilhão de toneladas, ou cerca de 1,3 tonelada por habitante.
Mais secas e enchentes
Existe uma grande pressão internacional para que a Índia se comprometa em dezembro com cortes de emissões de gases-estufa. Mas assim como a China e o Brasil, o país recusa a se comprometer com metas de reduções que possam comprometer seu desenvolvimento. Em julho, após um encontro com secretária de Estado americana Hillary Clinton, Ramesh confirmou que seu país não vai aceitar pressões para limitar as emissões de carbono.
- Não há espaço para que nós, que apresentamos um dos menores níveis de emissão por pessoa, tenhamos que reduzir emissões.
No momento, as emissões indianas representam entre 5% e 7% das emissões globais, índice só superado por Estados Unidos, União Europeia e China. A Índia já é um dos países mais afetados pelas mudanças climáticas, principalmente pela ocorrência freqüente de secas e enchentes.
O Globo, 04/09/2009, Ciência, p. 32
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