VOLTAR

A hora de frear o relógio da extinção

JB, Internacional, p. A7
16 de Fev de 2005

A hora de frear o relógio da extinção
Plano de combate ao aquecimento global assinado por 141 países entra em vigor hoje boicotado pelos Estados Unidos

OSLO - Rejeitado pelos Estados Unidos, o plano de combate ao aquecimento da Terra entra em vigor hoje em meio a pouco alarde e diante de avisos de que é apenas um pequeno o inicial. O Protocolo de Kyoto, ratificado por 141 países (incluindo o Brasil), pretende conter a elevação das temperaturas médias do planeta, fenômeno atribuído aos gases do efeito estufa e capaz de provocar um aumento no número de secas e enchentes, elevar os níveis dos oceanos e exterminar várias espécies de animais e plantas até 2100.
No entanto, mesmo alguns dos signatários do pacto - que será celebrado hoje na cidade japonesa de Kyoto, onde foi assinado em 1997 - parecem não estar muito entusiasmados.

Muitos países, como Espanha, Portugal e Irlanda, estão muito acima das metas de emissão de gases que precisam atingir. E a Grã-Bretanha iniciou uma batalha jurídica com a Comissão Européia (braço Executivo da União Européia) a respeito das metas impostas ao país. Londres quer um aumento de 3% no patamar permitido às indústrias. Já a Itália vem reclamando do custo envolvido na implementação das medidas. O Brasil e outros países em desenvolvimento não precisam reduzir a emissão.
A ONU, por outro lado, adverte que a luta contra as alterações no clima da Terra será uma missão dura e demorada.

- Kyoto é, sem dúvida, apenas o primeiro o - afirmou Klaus Toepfer, chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. - Teremos que adotar outras medidas para enfrentar a rápida elevação das temperaturas em nosso planeta. Esse será um trabalho duro.

O protocolo estabelece limites compulsórios para a emissão de gases que causam o efeito estufa por países desenvolvidos. Esses países precisam diminuir sua emissão em 5,2% dos níveis de 1990. A meta tem de ser cumprida entre 2008 e 2012.

Mas alguns críticos ainda não se convenceram de que investimentos tais como adotar fontes de energia limpa como a solar serão bem empregados.

- Mas se as pessoas calcularem o custo de agir contra o custo de não agir, vão perceber que é o melhor retorno de investimento que já tiveram - sugere Toepfer.

- O planeta não sabe se o gás de estufa vem de Bangkor, do Maine ou de Pequim. Ele simplesmente afeta todo o globo - acrescenta Michael Morris, chefe-executivo da American Electric Power, a maior geradora de eletricidade dos EUA e uma das maiores indústrias emissora de dióxido de carbono. Ele acredita que um dia o país fará parte de Kyoto, mas não agora.

De acordo com o de Mudança Climática, patrocinado pela ONU, se as ações não começarem agora dentro de algumas décadas 150 milhões de pessoas terão suas casas nas regiões costeiras inundadas. Outras sofreram com secas ou tempestades. Casos de clima extremo vão aumentar, em espaço e quantidade. O homem estará mais exposto a doenças como a malária e à fome.

O quadro é ainda mais pessimista para as pequenas ilhas do Caribe, do Oceano Índico e da África: irão desaparecer com o aumento do nível do oceano, causado pelo degelo dos pólos.

- A alternativa é as indústrias pensarem: ''Vamos estar neste mundo mesmo, então nossa melhor aposta é desenvolver tecnologias limpas para continuar aproveitando o planeta'' - disse Eileen Claussen, presidente do Pew Cente em Mudança Climática Global.

A grande interrogação é se a ausência dos EUA no grupo de signatários afetará a força do protocolo. Maior poluidor do mundo, o país não aderiu para proteger as indústrias americanas. Washington também não concorda com a exclusão das metas para países em desenvolvimento.

- Enquanto nosso país e os outros com altas emissões que aderiram tomaram caminhos diferentes, o destino é o mesmo e compatível com os esforços - justifica o porta voz do Departamento do Estado, Richard Boucher. A Casa Branca, segundo Boucher, pretende gastar US$ 5 bilhões em 2005 com pesquisas sobre mudanças no clima e em tecnologia para combatê-las.

EUA ameaçam êxito do acordo

OSLO - Apesar de conhecer as conseqüências globais da não-aderência ao Protocolo de Kyoto, em 2001 o presidente dos EUA, George Bush, retirou do documento a de seu antecessor, Bill Clinton. Bush alegou que para os EUA, o maior poluidor do mundo, o pacto seria custoso demais e errava ao não exigir o cumprimento de metas pelos países em desenvolvimento. O movimento de retrocesso foi seguido pela Austrália.

- Mesmo que o documento fique em vigor para sempre, teria quase nenhum efeito mensurável no clima - faz eco o dinamarquês Bjorn Lomborg, autor do livro The Skeptical Environmentalist (O ecologista cético).

A aplicação do Kyoto custará anualmente cerca de US$ 150 bilhões e, segundo Lomborg, o dinheiro seria mais bem gasto ''no combate à Aids ou na promoção do livre comércio''.

Mesmo de acordo com as projeções da ONU, se for implementado conforme o previsto, o protocolo será responsável por baixar a temperatura da Terra em apenas 0,1 grau Celsius até 2100. Até lá, projeta-se uma elevação na temperatura global de algo entre 1,4 e 5,8 graus Celsius.

E a maioria dos especialistas concorda agora que a luta contra as mudanças climáticas dependerá das futuras políticas de emissão de dióxido de carbono adotadas pelos americanos.

- Kyoto não funcionará a não ser que os EUA se incluam a partir de 2012 - diz Bo Kjellen, pesquisador do britânico Tyndall Centre.

Segundo ele, países em desenvolvimento como China e Índia teriam pouco incentivo em aderir ao compromisso se Washington estiver dispensado. Ambas as nações ratificaram o tratado, mas não se comprometem a reduzir emissões de gases mesmo que, juntas, atualmente já correspondam a 14% da produção mundial.

Principais elementos

GASES
Controle da emissão de seis gases que causam efeito estufa: dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, hidrofluorcarboneto, perfluorocarbono e hexafluoreto de enxofre
METAS
Determinar metas numéricas para reduzir ou limitar as emissões, comparadas com a base de 1990. O limite deverá ser cumprido por 35 países industrializados, entre os 140 que ratificaram o pacto

COMÉRCIO
Permite que as emissões de gases sejam objeto de permuta entre os 35 países. Plantas industriais que ficarem abaixo da meta podem vender seus "créditos" àquelas que ultraaram os limites

IMPLEMENTAÇÃO COMUM
Permite que uma nação desenvolva um projeto de redução das emissões em outro dos 35 países industrializados. O "crédito" na meta vai para o criador da iniciativa

DESENVOLVIMENTO LIMPO
ite compensação de obrigações para Estados que fundem projetos de energia limpa (eólica, solar etc) nos países em desenvolvimento.

JB, 16/02/2005, Internacional, p. A7

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.