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Mais da metade da população indígena no Brasil vive em áreas urbanas, aponta Censo 2022

O Globo - https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2024/12/19/mais-da-metade-da-populacao-indigena-no
19 de Dez de 2024

Mais da metade da população indígena no Brasil vive em áreas urbanas, aponta Censo 2022
O quantitativo dos que moram na zona rural diminuiu: enquanto em 2010 os indígenas residentes neste contexto somavam 63,8% da população, em 2022 esse percentual caiu para 46%

Por Pâmela Dias e Lucas Altino - Rio de Janeiro
19/12/2024

Mais da metade da população indígena no Brasil reside em áreas urbanas, de acordo com o Censo. O número saltou de 36,2% em 2010 para 54% em 2022. Por outro lado, o quantitativo dos que moram na zona rural diminuiu de 63,8% para 46% no mesmo período. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (19).

De 2010 para 2022, a população indígena em áreas urbanas teve uma variação de 181,6%, o que representa um aumento de 589.912 pessoas. Apesar de não ser mais predominante a presença desse grupo em contexto rural, o número de indígenas nessa área também cresceu 36,3% em relação a 2010 - uma crescente de 208.007 pessoas. (Veja infográfico abaixo)

O Sudeste tem o maior percentual de população indígena em situação urbana (77,25%), enquanto o Centro-Oeste tem o menor: apenas 37,95% dessa parcela populacional vivem no contexto urbano. Já o Norte apresenta cerca da metade da sua população indígena nesta condição e outra metade em situação rural.
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Tiago Moreira, antropólogo do Instituto Socioambiental (ISA), acredita que a principal explicação para um aumento tão grande do percentual de indígenas em centros urbanos seja a mudança de metodologia adotada pelo IBGE nessa edição do Censo. Até 2010, perguntas direcionadas à identidade indígena só eram feitas em territórios de fato indígenas, explica.

Mas dessa vez, o IBGE realizou um mapeamento com todas localidades indígenas do Brasil, chegando a 8.568 locais, incluindo cidades fora de terras demarcadas. Assim, facilitou a identificação dessa população nos centros urbanos.

- Em 2010 a gente já teve indícios dessa presença nas cidades, mas, do modo que o Censo era realizado, dificultava a identificação desse grupo. Agora o IBGE ajustou metodologia, com mapeamento prévio de localidades com potencial de presença indígena, e quando o recenseador chegava nessas localidades, fazia perguntas direcionadas, para saber se a pessoa de identificava como indígena - explicou Moreira.

Como exemplo do impacto da mudança da metodologia, Moreira destacou que, em Manaus, grande parte dos indígenas se identificavam como pardas, quando questionadas sobre raça ou cor. Somente depois, questionadas especificamente se elas se identificavam como indígenas, confirmavam que sim.

- As perguntas no contexto adequado permitem que as pessoas se identifiquem corretamente. Essa questão da identidade indígena é complexa, porque, na visão deles, não a por recorte de raça e cor - acrescenta o pesquisador.

Além dessa mudança metodológica, Moreira cita também as migrações que ocorrem de populações indígenas para centros urbanos,

- A migração tem questão de oferta de emprego, de estudo. As vezes em busca de outras condições de vida tb. É uma tendência real, mas não explica sozinha a variação tão grande - diz o antropólogo, que lembra também as migrações forçadas por questões de segurança. - Conflitos ou prejuízo ambiental podem acontecer, e aí a presença urbana está relacionada com a perda de território.

De acordo com o IBGE, os dados vão ajudar a proporcionar uma análise detalhada sobre a condição da população indígena no país, mas alguns dos fatores que podem explicar o crescimento desse grupo em áreas urbanas é a migração para fins de educação, trabalho e o a saúde.

A idade mediana da população indígena em situação urbana fora de terras indígenas é de 32 anos. Isso significa dizer que metade dos habitantes tem essa idade. Já nas mesmas condições da zona rural, a idade mediana cai para apenas 18 anos.

Educação em áreas rurais e urbanas

A taxa de alfabetização entre os indígenas cresceu em todas as faixas etárias e grandes regiões do país. Apesar de ainda ser o grupo populacional com o maior índice de analfabetismo no Brasil, dados do Censo 2022 mostram que 85% da população sabem ler e escrever.

De 2010 para 2022, a taxa de analfabetismo das pessoas indígenas caiu de 23,4% para 15,1%. Ao fazer uma análise por cor ou raça, no entanto, o índice de pessoas autodeclaradas brancas segue mais de três vezes menor do que a dos indígenas.

- Parte dessa disparidade entre os indígenas se deve às diferentes línguas faladas pelos povos e ao fato de muitos não terem o à alfabetização da língua portuguesa. Mas também tem a ver com o fracasso de políticas específicas de ensino, que não levam em consideração as particularidades de cada povo - avalia a especialista em educação Claudia Costin, ex-diretora global de educação do Banco Mundial.

Ao analisar a taxa de alfabetização das pessoas indígenas, por situação urbana e rural do seu domicílio, os que vivem em áreas urbanizadas avançaram na educação, mas pouco: aram de 87,7% em 2010 para 89,1% em 2022.

Já no contexto rural, o percentual dos povos tradicionais que sabem ler e escrever subiu de 67,8% para 78,8% no mesmo período.

Os dados do IBGE apontam ainda que houve uma queda na taxa de analfabetismo tanto no contexto urbano quanto rural. O percentual dos que não sabiam ler e escrever um bilhete simples reduziu de 32,16% em 2010 para 21,15% em 2022.

Em áreas urbanas, no mesmo período a taxa de analfabetismo ou de 12,3% para 10,8%.

O IBGE considera alfabetizadas as pessoas que sabem ler e escrever pelo menos um bilhete simples ou uma lista de compras, no idioma que conhece, independentemente de estar ou não frequentando escola ou de ter concluído períodos letivos. Também é levado em consideração indivíduos que utilizam o Sistema Braille e que tinham habilidade para a leitura ou escrita, mas se tornaram fisicamente ou mentalmente incapacitados.

Saneamento básico
O Censo apontou ainda que cerca de 70% dos indígenas conviviam com alguma forma de precariedade em relação ao abastecimento de água, à destinação do esgoto ou à coleta de lixo. Esse percentual é 2,5 vezes maior que o índice registrado entre o total de residentes do país, que apresentou 27,3% da população nestas condições.

Ao analisar a situação dentro das terras indígenas, esse número é ainda mais alarmante e alcança 96% dos moradores, o que equivale a quase 600 mil pessoas.

Nas localidades rurais fora de terras indígenas, 94,4% das pessoas vivem com o precário ao saneamento básico. No mesmo contexto da área urbana esse percentual cai para 44,3%.

Os dados apontam também que, enquanto a população brasileira total residente em domicílios particulares permanentes destina majoritariamente o esgoto para rede geral ou fossa séptica (75,74%), entre os indígenas a principal destinação é para fossa rudimentar, buraco, vala, rio, córrego ou mar, com 64,53% dos moradores (1.086.662 pessoas) usando esses meios.
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Água encanada
Enquanto 97,28% da população urbana do país morava em domicílios com água encanada até dentro de casa proveniente da distribuição, poço, fonte, nascente ou mina, entre os indígenas que vivem nesse contexto esse percentual era de 86,67%.

Em situação urbana, o o à água em condições de maior precariedade é quase cinco vezes maior entre a população indígena (13,33%) do que entre a população residente no Brasil (2,72%).

Considerando inclusive apenas os moradores indígenas residindo fora de terras indígenas em situação urbana, o nível de precariedade no o à água é 3,7 vezes superior (10,08%) ao da população residente em situação urbana (2,7%).

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