O Globo, Ciência e Vida, p. 32
07 de Dez de 2004
ONU pressiona Brasil a revelar suas emissões de CO2
Janaína Figueiredo
Correspondente
Poucas horas depois de ter inaugurado a décima Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP-10, a secretária-executiva do evento, a holandesa Joke Waller-Hunter, deixou claro que a divulgação do inventário brasileiro de emissões de gases-estufa é aguardada com grande expectativa pelos 189 países que participam do encontro.
- Acreditamos que até o começo da semana que vem Brasil, China e Índia apresentarão suas informações nacionais - afirmou.
Segundo revelaram integrantes de ONGs brasileiras que acompanham há mais de dez anos o impacto do aquecimento global no Brasil e no resto do mundo, estima-se que 75% das emissões brasileiras de CO2 (principal gás que provoca o aumento da temperatura da Terra) são produzidas por queimadas e desmatamento na Amazônia.
- Apenas 25% das emissões vêm da queima de combustíveis fósseis - explicou ao GLOBO o coordenador-executivo do Instituto Viate Civilis, Rubens Harry Born.
Fontes do governo brasileiro informaram que o inventário deverá ser apresentado esta semana em Brasília, antes de sua divulgação na COP-10. O documento já ou por uma série de revisões e sua publicação tem sido adiada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, apesar da pressão exercida por ambientalistas.
Embora as autoridades presentes tenham tentado parecer otimistas no primeiro dia de discussões, a situação é delicada. De acordo com dados divulgados ontem por Waller-Hunter, principal representante da ONU no encontro, entre 1990 e 2000 foi registrada uma redução global das emissões de 6,6%, acima da meta estabelecida no Protocolo de Kioto (documento assinado em 1997, no Japão, e ratificado por 129 países), de 5,2%.
No entanto, este resultado foi alcançado graças ao esforço dos países em desenvolvimento e, sobretudo, à desaceleração econômica. Já as nações mais desenvolvidas do mundo, com destaque para os EUA, principal poluidor do planeta, aumentaram suas emissões em 7%.
O cenário apresenta grandes riscos e exige, segundo a secretária-executiva da COP-10, a adoção de medidas de emergência para facilitar a adaptação dos países às mudanças climáticas.
- A intensidade dos eventos (climáticos) está aumentando. É fundamental que a COP-10 identifique uma série de medidas concretas para serem adotadas - afirmou, lembrando que "a adaptação avançou menos que a redução das emissões".
Para Waller-Hunter, o Protocolo de Kioto é necessário mas não suficiente. O documento, que entrará em vigor em 16 de fevereiro de 2005, prevê uma série de metas a serem cumpridas entre 2008 e 2012. O cenário pós-Kioto deverá começar a ser discutido a partir de 2006.
Adaptação a mudanças é essencial
Adaptação. Esta foi uma das palavras mais ouvidas ontem na abertura da COP-10. Representantes de diversos países insistiram na necessidade de elaborar planos para facilitar a adaptação do mundo às mudanças climáticas que já estão ocorrendo.
Segundo a secretária-executiva do evento, Joke Waller-Hunter, foi criado um fundo mundial destinado a financiar a implementação das medidas que conta com US$ 100 milhões.
Nos últimos 12 meses, vários países foram cenário de catástrofes provocadas pelo aquecimento global. Em dezembro de 2003, cinco pessoas morreram e mais de 10 mil tiveram de ser evacuadas na França, durante um dos piores temporais das últimas décadas. No mesmo mês, centenas de pessoas morreram na Grã-Bretanha, vítimas de uma onda de frio. Em maio deste ano, fortes tempestades mataram 1.600 pessoas no Haiti e na República Dominicana. ( J.F .)
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O Globo, 07/12/2004, Ciência e Vida, p. 32
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