A Tarde-Salvador-BA
Autor: Gleison Rezende
28 de Ago de 2001
Índios inserem seus valores no ensino ministrado nas aldeias
Os índios pataxós da Costa do Descobrimento estão utilizando a escola para manter seus valores e ao mesmo tempo, com o ensino formal, enfrentar os desafios da sociedade contemporânea. Quem garante é o índio Jerri Matalauê, 25 anos, de Coroa Vermelha, que participou do 1o Encontro da Juventude Pataxó, em Itabela. O evento começou sexta-feira e terminou domingo com jovens índios dos municípios de Prado, Porto Seguro e Coroa Vermelha (Santa Cruz Cabrália).
Segundo o índio Matalauê, temos conseguido, a partir da escola, fundamentar o sentimento de ser índio que estávamos perdendo. A escola tinha um sistema convencional que não nos permitia inserir nossos elementos culturais. Matalauê é professor da aldeia e está fazendo curso de licenciatura plena em formação de professores indígenas no Mato Grosso. Segundo ele, uma das grandes questões do índio hoje é a linguagem, inclusive a música, a dança e a pintura. Isso aqui, na verdade, é um questionamento para os jovens se posicionarem, esclareceu. Na opinião dele, os índios de hoje estão mais conscientes. A gente precisa ir para a escola, conquistar um novo espaço fora da aldeia, mas sem perder a base, que é a própria aldeia, sem perder o sentimento de apropriação do seu próprio povo e do seu conhecimento.
Mobilização
Já Sumário Santana, do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), disse que, além de promover uma aproximação entre os jovens das várias aldeias da região, o encontro teve como objetivo mobilizar os pataxós para uma discussão sobre a realidade de seu povo, avaliando o ado e projetando o futuro.
A primeira noite do encontro foi aberta ao público e teve a participação de centenas de pessoas, principalmente estudantes de Itabela. Além deles, estavam presentes o presidente do Conselho de Caciques, Zezito Pataxó, o cacique de Aldeia Nova, Joel Braz e o presidente da Câmara de Itabela, Dorival dos Santos Barbosa. Houve várias apresentações de música e dança, exposição fotográfica, exibição de um vídeo mostrando a repressão policial aos índios durante as comemorações dos 500 anos do Brasil, no dia 22 de abril de 2000.
Durante o encontro, os jovens discutiram temas como O povo pataxó olhando o ado e vendo o presente para construir o futuro e A educação escolar indígena.
Nós, organizações e entidades indígenas de apoio ao povo indígena do Brasil, queremos que nossos filhos sejam capacitados e formados para defender seus direitos, não com a formatura escolar, mas com uma mentalidade para buscar conhecimentos práticos, ressaltou Joel Braz. O cacique lembrou que os jovens serão as lideranças do futuro. Vocês, jovens, estão aprendendo para amanhã exercitarem o seu trabalho, assim como nossos anteados lutaram. Às vezes, quando a gente pensa na luta, quando fala em guerreiro, logo vem ao nariz um cheiro de morte, um cheiro de sangue porque foi assim que nossos anteados morreram. Mas vale a pena, porque o nosso corpo e o nosso sangue serão adubo e vida para o futuro.
A índia Ariana Bonfim, 19 anos, da aldeia de Coroa Vermelha, está preocupada com a perda de identidade de seu povo. A civilização nos tirou tudo. Hoje, o que nós temos ainda é a dança. Estamos lutando para resgatar nossa cultura. Segundo ela, não todos, mas muitos índios têm vergonha de assumir sua identidade.
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