JB, Ciência, p. A12
29 de Nov de 2005
Pedágio ecológico
Países pobres cobram para proteger florestas
A conferência das Nações Unidas sobre clima, aberta ontem no Canadá, começou com uma proposta polêmica. Um grupo de países em desenvolvimento propôs uma espécie de 'pedágio ecológico': se os ricos quiserem que as florestas sejam preservadas nessas nações menores, deverão pagar por isso.
O bloco reúne 10 nações, lideradas por Papua Nova Guiné e Costa Rica. O argumento principal é o de que o resto do mundo se beneficia com a riqueza dessas florestas, sem no entanto dividirem os custos. Michael Somare, primeiro-ministro da Guiné, justificou dizendo que a madeira é um dos poucos recursos naturais disponíveis nesses países e a opção real para o crescimento econômico implica na exploração florestal.
A chamada Coalizão dos Países com Florestas Tropicais defende que o atual modelo falha na preservação da biodiversidade, não ajuda a reduzir a pobreza e não protege o mundo do efeito-estufa. Também argumenta que todos se beneficiam das reservas em áreas em desenvolvimento, mas os Estados ricos nada pagam para garantir essa segurança.
Em seu estado natural, as florestas produzem pouco para que os habitantes possam trocar por subsistência. Só com a madeira ou queimando a mata conseguem tirar algum proveito da terra. Para o resto do planeta, as matas fazem a limpeza atmosférica, reciclando os gases produzidos pela queima de combustíveis fósseis. Assim, cortar ou queimar a mata aumenta e muito a emissão, mais do que se a natureza agisse normalmente. Dados da ONU indicam que durante os anos 90, de 20% a 25% da emissão global foram gerados dessa forma. A taxa equivalia à toda a poluição gerada pelos Estados Unidos.
Sob o Protocolo de Kyoto, bilhões de dólares estão sendo gastos em um mercado de troca de carbono. O modelo prevê a compra de créditos por parte dos que vão poluir mais, como uma compensação. Até agora, apenas os países industrializados estavam obrigados a cortar emissões e comprar créditos. A proposta da Coalizão é a de em a comprar daqueles em desenvolvimento que tenham declaradamente provado sua capacidade de manter as florestas protegidas. A fiscalização seria feita por dois organismos independentes, já ativados.
O objetivo é alinhar os interesses dos dois lados, unindo o mercado de carbono e o de produtos florestais - afirma Somare. - Se nós reduzimos as nossas emissões por cortar menos árvores, deveria haver compensação por isso - completa.
Para o economista americano Joseph Stiglitz, a idéia é interessante.
- Países em desenvolvimento há muito detém um produto vital para o planeta, a boa istração dos assuntos ambientais. Essas florestas são um grande depósito de biodiversidade - avalia.
A questão é urgente para a Coalizão, já que a próxima reunião global sobre mudanças no Protocolo de Kyoto só ocorrerá em 2012. Mas tanto em Papua quanto nos outros integrantes do bloco, as alterações precisam acontecer rapidamente.
JB, 29/11/2005, Ciência, p. A12
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