FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
18 de Abr de 2025
Projetos levam energia solar a povos tradicionais e formam eletricistas
ONGs capacitam indígenas e ribeirinhos na Amazônia para instalar e gerir sistemas fotovoltaicos, enquanto banco comunitário cria usina para famílias de baixa renda no CE
18/04/2025
Victória Pacheco
Ficar no escuro com as filhas até o marido retornar do trabalho para consertar o solar era comum para Marileide Alves, 37, moradora da comunidade ribeirinha Jari do Socorro, em Santarém (PA).
A eletricidade chegou à moradia da paraense em 2019, quando sua família adquiriu um sistema fotovoltaico e enfim aposentou velas e lamparinas.
No mês ado, Marileide aprendeu a realizar pequenos reparos no equipamento, após participar do projeto Eletricistas do Sol, da ONG Saúde & Alegria.
"Quando o gato subia no telhado e desconectava os fios, ficávamos sem energia até de noite. Não me sentia segura para manusear", relata. "Se isso acontece hoje, resolvo na hora."
Por uma semana, Marileide e outras 21 mulheres tiveram aulas em período integral sobre conceitos básicos de eletricidade, como potência, tensão e corrente, além de lições práticas de como instalar e fazer a manutenção dos equipamentos.
"É importante que as pessoas do território saibam usar os sistemas e não dependam da mão de obra externa, que costuma ser cara", explica Jussara Salgado, coordenadora de Infraestrutura Comunitária da ONG e professora das oficinas.
"Isso dá autonomia e empodera a comunidade, especialmente as mulheres, podendo virar até uma atividade profissional para complementar a renda."
A organização, que desde 1999 implementa sistemas solares na região do oeste do Pará, fez a primeira turma feminina em março de 2024.
Antes, o curso era misto, o que trazia desafios para o aprendizado das alunas, segundo Caetano Scannavino, coordenador da Saúde & Alegria, vencedora da primeira edição do Prêmio Empreendedor Social.
"O público era 80% masculino, e começamos a perceber que as mulheres queriam participar mais ativamente. Então decidimos fazer turmas femininas, lideradas por professoras."
O curso é aberto para quem recebeu seu sistema fotovoltaico da ONG, foi beneficiado pelo programa Luz para Todos, do governo federal, ou comprou o próprio aparato.
Iniciativa semelhante acontece na comunidade indígena de Terra Preta, às margens do baixo Rio Negro, a quatro horas de barco de Manaus.
No território onde vivem 46 famílias da etnia Baré, a ONG Revolusolar instalou dois sistemas fotovoltaicos, com apoio da Copime (Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno) e da Associação Comunitária Indígena de Terra Preta.
O primeiro deles, que abastece a Escola Indígena Municipal Arú Waimi, foi construído em 2023 e é composto por 32 módulos fotovoltaicos, seis baterias de lítio e um inversor. A organização estima que o sistema gere economia de R$ 12.000 anuais, reduzindo a dependência do uso de diesel.
Já o segundo, instalado em abril de 2024, fornece energia para o posto de saúde, a bomba d'água e o centro comunitário do território, com 18 módulos fotovoltaicos, seis baterias de lítio e dois inversores.
Batizado de "Kurasí Tury" (na língua nheengatu, a expressão significa "energia do Sol"), o projeto também oferece capacitação para os indígenas, em parceria com o Instituto Federal do Amazonas.
"A gente não só instala a placa como faz ações de eficiência energética, formando moradores para que eles consigam se apropriar de fato da tecnologia", explica Elen de Lima, da Revolusolar.
"Sem o treinamento adequado, é muito provável que o pessoal deixe as placas em desuso e, com o tempo, elas parem de funcionar."
Após 200 horas de aulas teóricas e práticas, o curso formou 20 moradores, aptos a operar e a fazer manutenção dos painéis.
A ONG finalista do Empreendedor Social 2024 também organizou seis oficinas sobre energia solar, meio ambiente e memórias ancestrais para 72 alunos, incluindo crianças, adolescentes e adultos.
Ministradas em português e na língua local, as aulas resultaram na criação de cartilha sobre energia solar fotovoltaica na perspectiva indígena.
Ampliar a oferta de energia em contextos vulneráveis é propósito compartilhado pelo Banco Palmas, instituição comunitária fundada em 1998 para democratizar o o a serviços financeiros e bancários na periferia de Fortaleza (CE).
Em 25 de abril, será inaugurada a Palma Solar, usina de energia solar fotovoltaica no bairro Conjunto Palmeiras. Financiada e gerenciada pelo banco, a estrutura vai beneficiar 50 famílias, ajudando a reduzir o valor da conta de luz.
Cada família poderá adquirir uma cota mensal de até 150 kWh da Palma Solar, ao custo de R$ 0,30 por kWh -cerca de um terço do valor cobrado pela concessionária local, de R$ 1,10 por kWh.
Na prática, as famílias receberão duas contas: uma da concessionária e outra da Palma Solar. Se o consumo mensal for de até 100 kWh, a conta da primeira virá zerada, e a família pagará ao Banco Palmas o valor correspondente ao consumo, com a tarifa reduzida.
Parte do valor pago ao banco comunitário é devolvida à família na forma de moeda social, que funciona como um cashback a ser utilizado em comércios do bairro.
"O objetivo é abaixar o preço da energia, chegando a zerá-lo, em alguns casos. Isso já aumenta a renda da pessoa e possibilita uma melhoria na qualidade de vida", explica João Joaquim de Melo Neto, fundador do Banco Palmas e finalista do Empreendedor Social em 2008 e 2020.
Outra meta é fortalecer o comércio local por meio da moeda social, que deve movimentar cerca de R$ 25 mil por mês nos pequenos negócios do bairro.
"A ideia é que a Palma Solar seja um projeto-piloto de produção de energia comunitária para garantir transição energética com justiça social no Brasil", acrescenta Melo. "Queremos permitir que as comunidades se organizem para istrar suas usinas solares e, assim, gerar renda para viver melhor."
https://www1.folha.uol.com.br/folha-social-mais/2025/04/projetos-levam-…
As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.