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Quilombos na lista de espera

JB, Cidade, p. A14
28 de Mar de 2005

Quilombos na lista de espera
Órgão federal promete regularizar lotes da Ilha de Marambaia ainda este ano

Mariana Filgueiras

A Ilha de Marambaia é prioridade na lista de regularização fundiária do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas outras três comunidades de descendentes de quilombos também esperam a conclusão do processo de titularidade de posses. Ontem o Jornal do Brasil publicou reportagem sobre a ocupação de Marambaia, em que moradores descendentes de quilombos do século 19 vivem situação precária.
A procuradora geral da Fundação Cultural Palmares, Ana Maria Lima de Oliveira, informou que ainda esta semana será publicado no Diário Oficial da União o termo de cooperação técnica entre a F e o Incra, que agilizará o processo de demarcação dos 743 territórios quilombolas no Brasil. Ela explicou que a fundação ficará responsável pelas terras que já foram tituladas e o Incra por aquelas que ainda não foram.
- O Estado brasileiro tem o dever de devolver estas terras aos proprietários - atestou.
Na cidade de Quatis, no Sul fluminense, a comunidade de Santana, composta de 21 famílias, recebeu em 2000 o título de reconhecimento de domínio. Para registrá-lo, contudo, o cartório do município alegou dúvidas em relação aos documentos apresentados.
- É preciso checar se os títulos dos proprietários foram forjados ou se são legítimos, para que o pagamento das indenizações seja correto - diz Ana Maria.
As indenizações às quais Ana Maria se refere serão pagas às pessoas que compraram as terras dos descendentes de escravos. De acordo com ela, o Incra já tem a verba necessária para o procedimento.
A comunidade de Rasa, localizada na periferia do município de Armação de Búzios, teve sua delimitação territorial concluída em 1999. Segundo a ONG Koinonia, o traçado não inclui todo o bairro da Rasa, mas apenas as famílias descendentes dos escravos que se encontram espalhadas pelo bairro.
No município de São Pedro d'Aldeia, no bairro Botafogo, fica a Fazenda Caveira, composta de 224 famílias. Os habitantes são descendentes dos escravos da antiga Fazenda Campos Novos, sesmaria do século 19. O reconhecimento e a delimitação foram feitos em 1999. Hoje a área demarcada sofre com as atividades ilegais de extração de areia.
- Todas as três comunidades estão à frente na lista por já terem iniciado o processo de regularização judicialmente. Mas os moradores ainda sofrem sem luz, sem saneamento, a maioria é analfabeta e não tem registro de nascimento - diz Ana Maria.
O ime entre o Incra e a Marinha na Ilha de Marambaia já dura dois meses. Tempo suficiente para que o Incra terminasse o trabalho de delimitação das terras, não fosse a barreira dos militares. O trabalho de demarcação, interrompido quando faltava apenas uma semana para ser concluído, é fundamental para finalizar o processo de entrega da titularidade coletiva das terras à Arquimar (Associação da Comunidade Remanescente de Quilombos da Ilha da Marambaia). Desta forma, as famílias que moram amontoadas na mesma casa construiriam outras e as que foram expulsas pela Marinha - cerca de 40, que vivem hoje em Itacuruçá - poderiam voltar.
- A partir do laudo antropológico recebido, fizemos uma delimitação da área em que as pessoas da comunidade têm casas. O próximo o seria levar este traçado à Marinha, para que fosse comprovado que o território não faria falta às Forças Armadas. O Incra tem todo interesse em finalizar o processo, já que é política do governo federal regularizar as terras dos quilombos - informou Celso Souza Silva, gestor do Programa de Igualdade, Gênero e Etnia do Incra.

JB, 28/03/2005, Cidade, p. A14

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