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Valor do verde

O Globo, Economia, p. 26
Autor: OLIVEIRA, Flávia
08 de Jan de 2006

Valor do verde

O ano de 2005 germinou uma semente capaz de bons frutos para o Brasil num futuro não tão distante. Dono da maior e mais rica floresta tropical do planeta, o país pode ganhar dinheiro preservando a Amazônia - dando alegria, ao mesmo tempo, a ambientalistas e desenvolvimentistas. Já está em discussão nos organismos multilaterais a idéia de estender os benefícios financeiros do Protocolo de Kioto às nações que protejam suas florestas.
A proposta ganhou força durante a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas (UNCCC, na sigla em inglês), realizada no fim de novembro, em Montreal (Canadá). Cientes de que a redução na emissão dos gases do efeito estufa está entre os desafios mais urgentes do mundo, um grupo de países em desenvolvimento, Brasil entre eles, ou a defender a proposta de serem recompensados pelos cuidados com suas florestas, conta Vinod Thomas, ex-diretor do Banco Mundial (Bird) no Brasil, hoje à frente da área de avaliação de políticas da instituição, em Washington.
Thomas, que participou da conferência, explica que esse tipo de compensação não está previsto no Protocolo de Kioto, que contempla apenas os projetos que reduzam a emissão dos gases danosos e de reflorestamento. Não há, diz ele, qualquer mecanismo de proteção às florestas já existentes:
- É óbvio que reduzir o desmatamento tem o mesmo valor, ou até mais, que plantar florestas. Esse argumento é a base da proposta defendida por países, como Brasil, Costa Rica e Papua Nova Guiné, de dar créditos a quem proteger suas florestas.
Para Thomas, autor do recém-lançado livro "O Brasil visto por dentro", no qual trata de pobreza e meio ambiente, o país está qualificado para assumir o leme dessa negociação. Afinal, abriga a maior floresta e, por isso, pode ficar com a fatia mais gorda do bolo.
Dados do Bird mostram que 75% do patrimônio dos pobres no planeta são recursos naturais. Remunerar nações que preservem esses recursos pode, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento econômico e social e equacionar o dilema da questão ambiental, diz Thomas. A dúvida agora é decidir como medir, escolher quem o fará e determinar o preço do bem.
Se decolar, essa idéia vai mudar os rumos do debate sobre desmatamento, que ará a incluir não apenas as variáveis ética e ambiental, mas também a econômica. Aquela que, no fim das contas, faz diferença.

O Globo, 08/01/2006, Economia, p. 26

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