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07 de Mai de 2025
Infraestrutura de Belém preocupa na COP30
Governos focam em crise de hospedagem e transportes, sem atenção para benefícios que a cúpula poderia trazer à cidade
07/05/2025
Nada mais sintomático das contradições brasileiras do que escolher para sede da maior conferência ambiental do mundo a cidade de Belém, onde 8 entre 10 moradores vivem sem coleta de esgoto. E não será o frenesi de obras da COP30 a remediar tamanha iniquidade.
O estado do Pará investe meros R$ 22 per capita por ano em saneamento, ante R$ 111 na média nacional -e o desejável seriam R$ 231, segundo estimativa do Instituto Trata Brasil. A insalubridade resulta da incúria de várias gestões, não há como maquiá-la multiplicando tapumes.
Considere-se o Parque Urbano São Joaquim, intervenção que recebeu R$ 170 milhões da hidrelétrica de Itaipu. Apenas está em obras -aliás, atrasadas- o trecho 1, de 720 m ao longo do canal de mesmo nome, sem previsão de começar drenagem e saneamento nos outros 8 km. O trecho 1 fica no caminho do aeroporto e já foi descrito, sem ironia, como cartão de visitas da cidade.
Os cerca de 50 mil participantes esperados para o evento terão outras mazelas urbanísticas com que se preocupar. Mobilidade, para começar, numa metrópole de ruas estreitas e trânsito caótico. A frota do precário sistema de transporte público vai aumentar 30%, pelo acréscimo de 300 ônibus com wifi e ar-condicionado.
Mesmo rasgando avenidas novas, como a da Liberdade, não há garantia de que esses coletivos não ficarão retidos na massa de 557 mil veículos belenenses.
Cogita-se deslocar mais 350 ônibus da região só para transportar os participantes até o Parque da Cidade, onde se concentrará a COP30, desde o porto de Outeiro, a 30 km da sede. Reformado para receber grandes navios para hospedagem, o ancoradouro não chega a constituir opção prática para 6.000 hóspedes que ficarem sem alternativa.
O déficit de leitos está em cerca de 14 mil vagas. Organizadores contabilizam apenas 36 mil disponíveis, incluindo 15 mil para aluguel temporário por aplicativos e 2.000 em motéis -para nada dizer de 5.000 fora do município, em locais entre 9 e 70 km de distância, parte deles íveis apenas por embarcações.
As soluções cheiram a improviso, como antecipar férias e a chegada dos chefes de Estado para desafogar a reunião propriamente dita. O governo federal se empenha em acordos para conter a escalada de preços de hotéis, agens aéreas e víveres, mas parece duvidoso que tenha sucesso.
Não espanta que a COP30 já seja vista por parte dos moradores como desvantajosa, pela perturbação que impõe sem contrapartida de um legado civilizador.
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