VOLTAR

Trabalhadores destroem canteiro de obras de Jirau

FSP, Mercado, p. B1
18 de Mar de 2011

Trabalhadores destroem canteiro de obras de Jirau
Alojamentos foram incendiados; funcionários dizem reagir a prisão de colega
Camargo Corrêa diz que depredação é resultado da "ação de vândalos" e que não há previsão para a retomada da obra

Rodrigo Vargas
Enviado especial a Rondônia

Um novo dia de revolta de trabalhadores na usina de Jirau, em Rondônia, destruiu praticamente todo o canteiro e paralisou a obra, a maior em andamento no país com previsão de investimentos de R$ 11 bilhões.
Todos os alojamentos, além do posto de saúde, de escritórios e do almoxarifado, foram incendiados no início da manhã por cerca de 400 trabalhadores que diziam reagir à prisão supostamente abusiva de um colega. Na terça, briga entre funcionários foi o estopim para confronto que durou dez horas e, segundo a Secretaria da Segurança de Rondônia, resultou em 45 ônibus e 35 alojamentos queimados ou destruídos.
Cerca de 22 mil pessoas trabalham no canteiro. A maioria é de outros Estados e deixou ontem, às pressas, o local em direção à BR-364. "Saí só com a roupa do corpo. Estavam queimando tudo", relatou Advan Silva, 33, maranhense que chegara havia pouco mais de um mês.
Cem policiais estavam no canteiro no momento do confronto. Trabalhadores disseram à Folha que tinham sido expulsos do local com o uso de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. "Jogaram spray de pimenta contra a gente e disseram: "Corre, corre". Aí eu só mirei no rumo da saída e nem olhei para trás", disse o também maranhense José Araújo, 33.
A Força Nacional de Segurança Pública foi convocada e já está no local. Ao sair do canteiro, centenas de trabalhadores fizeram um bloqueio na BR-364 com paus e colchões incendiados.
No local, as queixas eram todas direcionadas à construtora Camargo Corrêa, que acusam de se recusar a atender pedidos de reajuste salarial, melhoria no vale-alimentação e no tratamento dado aos que ficam doentes.
O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil de Rondônia, no entanto, condenou o quebra-quebra e disse que o grupo envolvido nos incêndios não tem relação com a entidade. "A briga de terça foi só o estopim, mas essa confusão já estava sendo armada havia muito mais tempo", disse Adriano Rocha Rodrigues, 27, que veio de Sergipe. "Eu e outros viemos para cá por conta de promessas que não foram cumpridas. Isso aqui estava fervendo."

OUTRO LADO
Em nota, a Camargo Corrêa afirmou que a depredação é "resultado da ação de vândalos, que agiram criminosamente".
Segundo a empreiteira, não há previsão para a retomada da obra e de mudanças no cronograma.
Também disse que o quebra-quebra foi promovido por homens encapuzados -sem relação com os trabalhadores- que entraram no canteiro na manhã de ontem.
A motivação não foi apontada. Segundo a empreiteira, nenhuma pauta de reivindicações foi entregue.
A Camargo Corrêa também falou que retirou os trabalhadores da hidrelétrica por questões de segurança e que está tomando as medidas para garantir alojamento e alimentação aos funcionários que deixaram o canteiro.
Afirmou ainda que providencia o retorno de trabalhadores de outros Estados.

Colaborou Jean-Philip Struck, de São Paulo

Promessas não são cumpridas, dizem operários

Do enviado a Porto Velho

A maior parte dos trabalhadores da usina de Jirau vem de outros Estados do Norte e do Nordeste. Muitos contam ter sido chamados por recrutadores, que prometeram mais do que os funcionários dizem ter encontrado.
"Fui descobrir aqui que a Camargo Corrêa não paga hora extra. Você acha que eu iria vir para trabalhar só oito horas? Ficar fazendo nada o resto do dia?", questiona José Benedito Cotrin, 37, de Abaetetuba (PA).
O maranhense José Oliveira, 29, disse que não quer voltar a trabalhar na usina. "Quero receber os meus direitos e voltar para casa."
Outro trabalhador, que não se identificou, diz que a empresa se recusa a pagar a viagem de volta dos que pedem demissão e que o local é um "presídio em que o trabalhador controla o horário do banho de sol". (RV)

FSP, 18/03/2011, Mercado, p. B1

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1803201103.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1803201104.htm

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.